O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, surpreendeu o País ao anunciar, na tarde dessa quinta-feira (dia 29), seu afastamento, não apenas da presidência, mas da própria Corte, após 41 anos como magistrado. Barbosa alegou questões de ordem pessoal, apesar dos frequentes comentários de que poderia ser candidato às eleições deste ano.
Na verdade, Joaquim Barbosa não poderia disputar as eleições de 2014, por causa de um impedimento de ordem legal: ele precisaria ter deixado o STF seis meses antes do pleito, ou seja, em abril último. E precisaria ter se filiado a um partido político. Com isso, sua única participação prevista será como eleitor. Ou, no máximo, cabo eleitoral de algum candidato, algo improvável.
Ainda que tenha desagrado muito a massa petista, Joaquim Barbosa foi disparado o magistrado que mais demonstrou independência no País dos últimos tempos. Primeiro, porque, mesmo tendo sido nomeado pelo ex-presidente Lula, não condescendeu. Foi duro e cirúrgico no processo do Mensalão, sabendo o quanto estava desgostando a quem lhe nomeou.
É bem possível que Joaquim Barbosa também tenha mudado o curso da sucessão presidencial no Brasil pós-Lula. Sim, porque ao assumir o Mensalão e sinalizar por uma punição exemplar, ele tirou do páreo o candidato in pectore de Lula, que seria Zé Dirceu. Ou seja, o Brasil poderia ter hoje, não Dilma Rousseff, mas Zé Dirceu disputando a reeleição.
De qualquer forma, nunca os brasileiros se interessaram tanto pelos trabalhos no Supremo. Ainda que tenha beirado à espetacularização, o julgamento do Mensalão despertou no brasileiro um certo sentido de cidadania, uma certa convicção de que a Justiça não é apenas para os pobres e minorias segredadas da sociedade, como sempre se disse. Esse talvez tenha o principal legado de Barbosa.
Pena que não tenha julgado também o chamado Mensalão do PSDB.
Confira o anuncio oficial feito pelo ministro Joaquim Barbosa no Youtube (precisamente a partir do registro de tempo 2:05): https://www.youtube.com/watch?v=FsD49UX_OPw