A sua opção foi pela verdade e responsabilidade. Malfeitores não gostam disto. Parabéns, Leonardo.
Um grito de não à fraude
Adriano Ceolin
Veja
Há dois tipos de servidor público. Um deles serve aos políticos e, por isso, ascende na hierarquia e acumula prestígio e patrimônio rapidamente. O outro serve ao país, enfrenta interesses poderosos e, por isso, muitas vezes passa por dissabores no trabalho. Funcionário de carreira da Câmara dos Deputados, Leonardo José Rolim sentiu nos ombros o fardo de pertencer ao segundo grupo. Em março, quando era secretário de Políticas da Previdência Social, ele ajudou o ministro Garibaldi Alves a se preparar para uma entrevista. Como todo técnico zeloso, disse ao chefe que a estimativa correta de rombo nas contas previdenciárias para 2014 era de 50 bilhões de reais – e não 40 bilhões de reais, como informara o governo em seu decreto de contingenciamento de despesas. Político que pouco conhece da área, mas que há dez anos trabalhava com Rolim,Garibaldi confiou no subordinado e afirmou que o déficit oficial anunciado estava subestimado em 10 bilhões de reais.Foi o suficiente para Rolim engrossar o exército de servidores públicos mandados para a geladeira.
Pressionado pela presidente Dilma Rousseff, cuja gestão se especializou em maquiar os dados das contas públicas para esconder o descontrole nessa seara, o ministro divulgou uma nota à imprensa desmentindo o que ele mesmo declarara. Fez isso depois de uma conversa com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na qual foi convencido de que o rombo menor estava num “patamar mais compatível”com o cenário oficial. “O Rolim é um ótimo técnico, mas não é hábil politicamente”, disse Garibaldi a VEJA.Felizmente, não foi a primeira vez que faltou habilidade política a Rolim. Ele já havia comprado uma briga com o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, para garantir que o déficit da Previdência fosse incluído na prestação de contas da Presidência da República. Um dos artifíces da chamada contabilidade criativa, Augustin era contra a medida. Ao analisar o caso, o Tribunal de Contas da União (TCU) entendeu que Rolim tinha razão e determinou a revelação do dado. A equipe econômica não acolheu de forma precisa a decisão e preferiu divulgar os dados mais compatíveis com seus interesses.
Desautorizado em público, Rolim podia aceitar a farsa e preservar o cargo ou não compactuar com mais uma manobra destinada a ludibriar o contribuinte. O servidor mostrou que nem todas as consciências estão à venda – e pediu demissão.
Polemica Pb