É comum ouvirmos as pessoas dizerem que a Região Nordeste é uma região de seca, que chove pouco. Porém, a média pluviométrica de 500 mm/ano pode até ser pouco, mas é uma média que se pode comparar à muitas regiões úmidas do planeta.
O grande problema do Nordeste não é a quantidade de chuva, e sim a irregularidade nessa precipitação, e isso é um grande obstáculo à permanência do homem no meio rural devido à falta de água até mesmo para suprir suas necessidades básicas.
O semiárido brasileiro apresenta solos rasos e pedregosos, com baixa capacidade de retenção de água, baixo teor de matéria orgânica e alta potencialidade de erosão.
Para tentar suprir a carência de água, o nordestino vem, desde o período colonial, buscando alternativas para esse problema. A mais antiga e comum alternativa que o sertanejo encontrou foi a criação das barragens emersas, ou seja, aquelas que armazenam água na superfície da terra.
É uma boa alternativa, porém, não muito eficaz devido à elevada evaporação por causa das altas temperaturas que ocorrem no sertão nordestino.
Estudos desenvolvidos em regiões áridas e semiáridas do mundo enfatizam a necessidade de se armazenar água, principalmente no subsolo, pois a evaporação é bem pequena e, consequentemente, o aproveitamento da água é bem maior. A partir daí, surge a técnica de construir uma barragem submersa ou subterrânea.
Barragem subterrânea é toda estrutura que objetiva barra o fluxo subterrâneo de um aqüífero preexistente ou criado por meio da construção de uma barreira impermeável. Armazenar água em aqüíferos artificiais, por meio de barragens subterrâneas, pode ser uma alternativa capaz de suprir as necessidades de água no meio rural, principalmente para consumo vegetal.
No Nordeste brasileiro, as primeiras barragens subterrâneas ocorreu no município de Mossoró, localizado no oeste do Rio Grande do Norte, no ano de 1935, pela Inspetoria de Obras Contra as Secas.
A partir de 1954, instalou-se em Recife a “Missão de Hidrogeologia para o Nordeste”, através do Projeto Maior para Zonas Áridas da UNESCO.
Na construção dessas barragens pode-se utilizar material disponível na própria região, como argila, alvenaria, concreto ou lona plástica.
Em regiões onde foram construídas barragens submersas, verificou-se um aumento significativo na produção das culturas de milho, feijão e arroz.
Alguns fatores devem serem observados na construção dessas barragens, como a média de precipitação da região, as vazões dos rios e riachos, a granulometria dos solos, a qualidade da água quanto à salinidade, a capacidade de armazenamento do aqüífero e a profundidade da camada impermeável.
A primeira etapa do projeto, consiste na seleção da área onde será instalada a barragem. Deve-se primeiro, abrir trincheiras até a camada impermeável, objetivando oferecer maiores conhecimentos sobre a geologia e a pedologia do local, além de detectar se o local possui ou não um lençol freático.
Após esse processo, faz-se um levantamento planaltimétrico da área objetivando definir o melhor local para a construção. Depois, abre-se uma valeta transversal no leito do rio ou riacho com uma profundidade até a camada impermeável.
A vantagem em construir uma barragem subterrânea é o custo na implantação, além da grande capacidade de armazenagem de água.
A construção de barragens subterrâneas tornou-se mais uma alternativa de transformar o semi-árido nordestino numa região capaz de produzir os alimentos necessários para a sobrevivência, não só do homem do campo, como também dos animais e da população residente nos centros urbanos.
Porém, essa solução, se não for feita de forma correta, com acompanhamento de um técnico especialista, pode provocar a salinidade do solo e, conseqüentemente, tornar a área menos improdutiva, gerando fome e desigualdade no campo. Deve-se também, realizar treinamento aos produtores quanto aos aspectos construtivos e quanto ao manejo de tecnologia.
Professor Marciano Dantas – Natal/RN.