Cerca de 2,5 mil jumentos são retirados das rodovias da Paraíba, por ano, e encaminhados aos municípios onde existem depósito de animais de grande porte. No estado, são quatro cidades que recebem os animais recolhidos das estradas, tanto pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) como pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER).
Esses números representam mais de 50% dos animais recolhidos nas estradas. Eles são levados para depósitos localizados nas cidades Cajazeiras e Patos (ambas no Sertão paraibano) e para Campina Grande (na região do Agreste). A cidade de Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa, recebe os animais recolhidos por todo o Litoral do estado.
Nesses quatros depósitos, os gestores reclamam que os locais vêm se transformando em criatórios de jumentos, porque ninguém aparece para resgatá-los. “Outros animais como bois e cavalos, os donos sempre aparecem para resgatá-los, mesmo mediante o pagamento de multas ou penas alternativas, mas em relação aos jumentos isso não acontece. Esses animais ficam aqui e o que a gente consegue é tentar fazer com que alguém os adote”, contou o secretário de Agricultura de Patos (a 320 quilômetros de João Pessoa), Sebastião dos Santos Lima.
Ele informou que anualmente cerca de 500 jumentos passam pelo depósito em Patos. Atualmente o município está com 32 jumentos no curral. “Sempre que aparece alguém pedindo os animais, a gente analisa aquelas pessoas se elas realmente têm condições de manter e cuidar dos bichos e entrega para adoção. Ultimamente foram levados jumentos daqui para fazendas no Maranhão, Piauí e Pernambuco”, informou.
Sebastião contou que fica caro para a Prefeitura manter os bichos sob o cuidado. Ele conta que a ração está muito cara e, além disso, há também despesas com mão de obra e transporte. “Ainda há também a assistência veterinária. Essa semana, por exemplo, uma jumenta foi trazida prestes a parir, só que como o feto era muito grande foi preciso trazermos um médico veterinário para fazer o parto. Infelizmente a jumenta não resistiu e morreu, mas o filhote sobreviveu”, contou.
Em Cajazeiras, a 480 quilômetros de João Pessoa, o prestador de serviços da Prefeitura há quase dez anos, Eliézer Selerino de Sousa, disse que nesse período de tempo que está à frente dos cuidados com os bichos que são recolhidos nas rodovias da região, já foram trazidos cerca de 11 mil jumentos para o depósito municipal.
Na maioria dos casos, os jumentos são abandonados porque os donos não procuram por conta da falta de valor de mercado e também por falta de atividade nas áreas rurais. “Hoje em dia, os sítios e fazendas estão utilizando máquinas e motos. Carros com tração animal quase não existem mais. Por isso ninguém se interessa mais pelos jumentos”, explicou.
Ele disse, ainda, que atualmente está com 38 jumentos no depósito e que entregou um carregamento desses animais para um fazendeiro de Pernambuco. “Ele me contou que a área da fazenda é cheia de morros e serras e utiliza os jumentos para carga onde veículos ou outros animais são mais difíceis de conseguir transitar”, revelou.
Chip irá monitorar bichos
Já em Campina Grande, no Agreste do estado, Rossandra Oliveira, gerente de vigilância Ambiental da Prefeitura de Campina Grande, disse que no Centro de Zoonoses do município há uma superpopulação de jumentos. Ou seja, eles representam mais de 50% dos animais que estão recolhidos no local. O Centro de Zoonoses já teve que alugar uma fazenda para colocar os bichos, devido ao grande número de animais lá abrigados.
Ela acredita que muitos deles podem ter voltado às rodovias após serem adotados e mais uma vez foram recolhidos ao Centro. “Nós estamos com uma parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) para passarmos a utilizar um chip nesses animais com o objetivo de monitorá-los. Nós queremos saber se ele não são os mesmos que saem daqui para adoção. O objetivo é evitar que eles sejam adotados por pessoas que não têm realmente o interesse de cuidar deles”, explicou.
Em Campina Grande, o único destino que é dado aos animais também é a adoção. Rossandra revelou que para adotar os jumentos, os interessados precisam provar que moram na zona rural e que têm condições de cuidar bem deles. “Depois de adotados, nós fazemos uma visita para saber se eles estão sendo bem cuidados e se permanecerão protegidos para evitar que retornem às rodovias. Nesta quarta-feira (19) mesmo registramos a morte de um jumento que foi atingido por um veículo na área urbana da cidade”, contou.
No município de Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa, existem no momento 45 jumentos no depósito. O assessor de administração da Secretaria de Infraestrutura do município, Flávio Oliveira, informou que dos animais que são recolhidos anualmente, cerca de 70% são jumentos. “Deixamos eles por aqui, à espera de alguém que queira recebê-los através de doação”, disse.
Ele adiantou, no entanto, que as pessoas passam por avaliação para saber se realmente terão responsabilidade no cuidado do animal. “Nós verificamos a finalidade a que será destinado o jumento e em que condições ele ficará cuidado e as pessoas com intenção de adotá-los precisam morar em áreas rurais”, explicou.
Consumo da carne
A tentativa da liberação desses jumentos recolhidos das estradas para o abate e o consumo humano da carne em estados vizinhos como o Rio Grande do Norte, vem causando polêmica. Apesar de algumas pessoas defenderem a prática também aqui na Paraíba, ela é contestada por ambientalistas.
O biólogo presidente do Fórum Municipal de Proteção e Bem Estar Animal de Campina Grande, Antônio Lopes, defendeu a continuidade da proibição do abate. “Somos totalmente contra porque defendemos o bem estar do animal que inclusive já está em processo de extinção”, opinou.
Antônio Lopes disse que há realmente a preocupação com os animais que estão abandonados e ficam soltos podendo causar acidentes graves, “mas essa não é a forma de resolver o problema do abandono desses animais. Eles têm uma lei de proteção, a 9.605, cujo artigo 32 proíbe maus tratos a animais”, contestou.
O biólogo defende uma discussão ampla com todos os órgão envolvidos com o trato do animal para que seja feita uma campanha de conscientização das pessoas para a problemática atual dele. “Eles pode muito bem serem utilizados nas zonas rurais das pequenas cidades como meio de transporte e passeio. Temos que discutir alternativas para que eles continuem sendo utilizados sem serem maltratados, evitando a sua extinção”, ressaltou.
Questões ambientalistas
A veterinária Kalliup Leonora, coordenadora da Vigilância Sanitária do município de Pocinhos, no Agreste a 124 quilômetros da Capital, disse que a carne de jumento é perfeitamente consumível pelo ser humano. No entanto, ela é contra o abate dos animais por questões ambientalistas.
“Ela é uma carne que pode ser utilizada na produção do charque, mas claro que para isso deveria passar por medidas sanitárias”, analisou. Na opinião de Kalliup Leonora, pode ser que o consumo até já exista, através de abatedouros clandestinos.
Nesse caso, o perigo existe porque, como com qualquer outro tipo de carne, se não forem tomadas as medidas sanitárias necessárias, elas podem ocasionar problemas de saúde nas pessoas.
“Numa visão veterinária, não haveria impedimentos para o consumo humano da carne de jumento inspecinada, mas na visão ambientalista realmente trata-se de maus tratos e devemos proteger esses animais, principalmente porque eles estão em estado de abandono e de extermínio aqui no Nordeste”, avaliou.
Me vejo matutando e indagando por que até no reino animal aquele que mais fêz e faz pelo o homem sempre tem um triste fim. O homem é destruidor, egoísta, desonesto e tudo aquilo que não o satisfaz é descartado não importa como e de que maneira ou mesmo trocado por algo que lhe dê prazer ou lucro. O jumento hoje legado ao abandono foi desprezado, abandonado desde que foi trocado pela Motocicleta. Jumento ou jegue foi considerado sinônimo de trabalho, inspiração para letras de músicas até considerado nosso irmão e na crença popular em verso e prosa tem um emblema ou sinal de Cruz em sem dorso por ter sido ele que salvou tranportando Maria e Jesus em sua fuga quando estavam matando as crianças nascidas em sua época me perdoe se me fugiu o nome do rei que ordenou, mais parece-me rei Herodes. Pra encerrar observem o semblante do jumento, é sempre triste como quem nasceu pra servir, sempre escravo e nunca ter quem lhe dê o seu valor real. Triste realidade de quem habita este planeta TERRA.
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