Nos saudosos tempos do meu pai, Hilton, não existia supermercados, hipermercados ou, poderosos e sofisticados shoppings dos dias atuais. Naqueles tempos, o que vi na condição de menino de calças curtas, eram opções às antigas, com poucas mercearias que, se contavam nos dedos de uma mão e, as poucas feiras livres da minha cidade. As mercearias eram geralmente instaladas, em esquinas tradicionais e movimentadas, com um balcão simples de madeira separando os despachantes de produtos e, do lado de fora, os fregueses. O pagamento era à vista ou, com quitação no final do mês, valendo como documento um simples caderno pautado ou caderneta capa dura, onde se anotava tudo e mais alguma coisa. Contudo sem formalidades legais, valendo mais do que os cartões eletrônicos dos nossos dias.
Não existia competição entre feiras populares e mercearias, muito embora a maioria das coisas estivesse presente nas prateleiras e mesas dos dois estabelecimentos concorrentes. Invariavelmente, a maioria dos comerciantes adotava, em seu estabelecimento, um gato de estimação que era tido até, como membro da família, tamanho o apego. Na verdade, era a forma simples de espantar ratos e baratas que apareciam nas saídas dos esgotos. Todavia, o gatinho que nunca é bobo, sempre arranjava um local prazeroso, a exemplo dos sacos e pacotes de mercadorias, terminando por se amoldar para dar uma boa soneca. Daí os preguiçosos eram comparados com os gatos e se diziam que essas pessoas “dormiam mais do que gato de mercearia!” Mas bem que ele botava os ratos para correr e, quando seu dono chegava, miava e entrelaçava seu corpo entre pernas anunciando o dever cumprido.
Ainda hoje meu forte é ir às feiras, cada qual com um dia marcado, abertas ao público, a começar pelos primeiros raios do sol nascente, lá por volta das cinco horas da matina, quando começava o movimento dos feirantes em colocar as coisas nos devidos lugares. Tem uma feirinha pequena, perto da praia de Tambaú, aqui na minha cidade de João Pessoa, onde sempre compro as frutas da época e, como agora mesmo, estamos na safra da jabuticaba, da pinha, do umbu, da uva, dentre outras, entrei na onda.
“A como é que está o preço desse umbu, minha senhora?” perguntei a uma senhora morena simpática e gorda, que atendia. “Cada latinha é quatro reais”, completou a feirante. E se eu escolher as unidades, quanto seria: “o mesmo preço, meu senhor!”. Experimentei a fruta, coisa que os supermercados não permitem, e assim fiz, selecionando cada umbu, ao final levando três latinhas, ainda com direito a um “agrado” que é tradição nas feiras colocar um punhado de frutas, além do que foi pago.
As pessoas mais humildes, sempre deixam as compras da feira para o final das tardes, quando os preços ficam mais baixos, e os feirantes vão arrumando o que sobrou das vendas, economizando os gastos, principalmente, com alimentação. É a conhecida hora da xepa e do término dos trabalhos. Meu tempo parou na atualidade, terminei minha viagem sentimental sem volta, usei meu precioso tempo para ganhar o tesouro em ficar com a gente boa das feiras livres do meu país!
(*) Advogado e desembargador aposentado