Sinceramente, não perco tempo em rever os jornais, televisões, twitters, facebook, instagram e outros instrumentos de comunicação social, nas bombásticas “retrospectivas” que tem gente letrada que chama garbosamente de “introspectivas” de 2013. Afinal, somente quem estivesse numa ilha deserta e, sem sinal de internet é que poderia se atualizar no passado recente.
Pior ainda são as previsões anuais publicadas em todo mundo, sempre com uma vantagem de 50% sobre o que vai ou não vai acontecer. Certa vez, na década dos anos sessenta, quando ainda existia o jornal católico “A Imprensa”, da capital paraibana, aprendi a escrever jornalisticamente, e tinha a agência de notícia UPI – United Press International que distribuía notícias, dentre estas, o famoso horóscopo, que demorou a chegar na editoria por problemas dos Correios e Telégrafos. O Diretor do jornal, escritor e jornalista, Agrimar Montenegro, ficou impaciente, e me vendo terminar minha coluna, não se conteve: amigo Marcos falta o Horóscopo para fechar as páginas do jornal e mandar à impressão! Veja se tem alguma saída! Demorei um pouco e respondi que iria telefonar para ver o que poderia fazer.
Não consegui nada do desejado horóscopo daquele dia, até porque, todos os jornais diários ou semanais, sempre veiculavam os prognósticos do dia seguinte! Aí o pessoal da impressão me pediu para colocar outra matéria no buraco para o serviço ser completado. Pedi cinco minutinhos e, como num passe de mágica, joguei a coluna ao linotipista de plantão, de sua vez mandou para o diagramador, finalmente botando a majestosa máquina Rotoplana para completar as páginas da edição.
Dia seguinte, o diretor de “A Imprensa” veio ao meu encontro e deu um abraço de parabéns pelo sucesso da edição completa, entretanto, não poupou a curiosidade sobre o meu prestígio! Danado foi que, naquela mesma data de circulação do jornal, chegou o horóscopo atrasado e foi questionado qual dos dois era o verdadeiro!
É fácil demais explicar: presságios e previsões escolhi na base dos 50% das probabilidades assim redigido: “você terá uma surpresa que aguarda há muitos dias; as finanças podem melhorar até final do ano; amor sem alteração mas é preciso cuidados especiais; no seu rol de amigos, tem invejoso na área; a sua saúde merece exames semestrais.” E pronto! O nó da questão é a certeza absoluta de que o horóscopo deve ter sido, nem bom nem mau, muito pelo contrário. E ainda tem muita gente que acredita nas previsões anuais, na sinuosa simbiose entre uma possível verdade que não se sustenta na primeira chuva forte.
O entendimento do imortal Mestre William Shakespeare preleciona para os hodiernos e os pósteros: “Nossas dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”.
(*) Advogado e desembargador aposentado