ATÉ DEFUNTO VOTOU
I
No ano de 92
Por aqui teve uns assuntos,
Na campanha de Princesa
Ressuscitaram os presuntos,
Pra votar num candidato
Que era de fino trato
E bem quisto entre os defuntos.
II
Votou menino e mulher
Forasteiro e pé inchado,
Antõe votava por Zé
Tava tudo combinado,
O presidente da mesa
Não percebia estranheza
Na pinta do eleitorado.
III
Foi assim o dia inteiro
Se cumprindo o prometido,
Chagava aquele eleitor
Parecendo distraído,
Com sua honra marcada
Pra votar sem dar mancada
Com o título do falecido.
IV
Nisso o processo se deu
Não tinha quem superasse,
Além dos votos dos vivos
Que votava em quem pagasse,
Tinha os votos dos defuntos
Que na trama andavam juntos
Duma parentela sem classe.
V
Não teve pra onde correr
O candidato ganhou,
Aquele que tinha marcado
O título do eleitor,
E também foi comprovado
Certo, feito e registrado
Que até defunto votou.
VI
E o candidato perdido
Entrou logo na justiça,
Enquanto o vitorioso
Já estava assistindo a missa,
Preparatórios de posse
Esperando quem endosse
O diploma da cobiça.
VII
Chegou o dia da posse
Tudo certo aconteceu,
A justiça recebia
Uma ação do que perdeu,
Enquanto os trâmites legais
Se perdiam nos anais
Nada mais se sucedeu.
VIII
Foi tirado os quatro anos
Se passou muitos assuntos,
Princesa até prosperou
Em praças, ruas, conjuntos,
Mas aqui ficou lembrada
Como a cidade marcada
Onde se votou defuntos.
IX
E o processo na justiça
Tramitava devagar,
Com exatos cinco anos
A justiça veio julgar,
Dizendo que o perdido
De fato tinha vencido
E podia governar.
X
Mas já era outra história
Tava fora do mandato,
Cinco anos se passara
Onde um mandato é de quatro,
E assim em nada mudou
Quem venceu não governou
Nem por direito, nem fato.
Rena Bezerra.
(Na eleição de 1992 em Princesa Isabel, o número de eleitores falecidos que votaram foi uma vergonha, muito defunto votou.)