Ainda sinto falta do romantismo da máquina de escrever, mas também não sou propriamente um analfabeto digital. Na verdade, estou me alfabetizando nas tecnologias da informação – tenho e-mail, uso celular que me permite conexão full time e procuro me manter atualizado com o que ocorre no vertiginoso mundo da web. Resumindo: se não sou um expert, certamente não integro o (cada dia menos populoso) grupo que insiste na desconexão eterna.
Confesso, porém, que acho profundamente estranho alguns fenômenos produzidos pelas redes eletrônicas. Do ângulo que olho, vejo que elas muito constantemente balançam entre o bizarro e o inusitado.
Um desses fenômenos que desafia minha compreensão é a amizade digital.
Conheço gente que jura ter relações fraternas de longas datas com pessoas com as quais nunca interagiu fisicamente. Nunca trocaram um abraço ou travaram um bom papo com direito às entrelinhas expressas pelo silêncio ou a troca muda de um olhar.
Também nunca partilharam e muito provavelmente jamais partilharão uma boa refeição. Nem serão recebidas – ou receberão – em suas casas.
E, definitivamente, jamais viabilizarão, por meio das redes eletrônicas, o grandioso efeito da partilha de calor humano.
No (meu) mundo real, são essas experiências que determinam a intensidade da amizade. E que não podem, no meu modesto entendimento, ser prescindidas entre amigos.
Obviamente, não posso desacreditar os testemunhos das amizades mediadas via satélite.
Acredito, apenas, que a web instaurou – a exemplo do que tem feito em vários outros setores da vida moderna uma nova modalidade de relacionamento, viabilizando “encontros” que jamais poderiam ocorrer sem a interferência da internet.
Até porque, não raro, os amigos virtuais moram em extremos opostos, separados por oceanos de distâncias.
E ver estas relações eclodirem via cabos óticos é testemunhar, também, que a web enfim conseguiu: pragmaticamente colocou em ação o conceito de aldeia global criado pelo filósofo e educador canadense Marshall McLuhan, lá pela década de 60.
Na aldeia eletrônica, ocidentais e orientais ficam “íntimos” sem jamais se verem. Culturas distintas aparentemente se reconhecem. As distâncias caem.
E um novo padrão de comportamento surge, produzindo reflexos que só o tempo poderá maturar e interpretar.
No tempo presente, sabemos que o que McLuhan pressentiu quando ainda embrião virou um gigante transformador das relações. Mas ainda fico a matutar, batendo nas teclas desta máquina extraordinária para formatar este texto de incompreensões, que não consigo chamar de amigo real quem não está ao alcance de secar uma lágrima.
Ou partilhar uma gargalhada.