O empresário paraibano Carlos Alberto de Oliveira Andrade foi destacado pelo portal Terra, nesta semana. Em matéria que relata qual foi o primeiro emprego dos homens mais bem sucedidos do Brasil, o nordestino foi incluído na lista por sua ascensão no ramo automobilístico.
Carlos Alberto de Oliveira Andrade é quem mais vende carros no País e, após ter investido R$ 300 milhões, começou a produzir os seus modelos associado à Hyundai. Nasceu assim a mais recente montadora nacional.
Esse “Henry Ford” brasileiro aprendeu a ser empresário muito cedo. Décimo-primeiro filho de uma família de 17 irmãos, ele se viu forçado a abandonar o colégio Marista, em Campina Grande (PB), quando tinha 15 anos, em função de dificuldades financeiras. Sem pensar duas vezes, decidiu descer para São Paulo, onde foi morar na Associação Cristã de Moços. Para juntar dinheiro, Carlos Alberto montou um pequeno quiosque na ACM, onde vendia de tudo: frutas, biscoitos, cigarros e assim por diante. “Foi lá que eu aprendi a ser vendedor”, diz ele. Graças a esse trabalho, ele conseguiu pagar os estudos e entrar na Faculdade de Medicina, em Recife. Uma vez formado, Carlos Alberto voltou para Campina Grande e começou a juntar dinheiro como o principal cirurgião da cidade. A história só mudou em 1979, quando ele comprou um Landau novo em folha, que era seu sonho de consumo. Orgulhoso, dirigiu até Recife e foi mostrar a máquina a um dos irmãos, que fez pouco caso, dizendo que o carro era até bom, mas não era automático. Carlos Alberto voltou a Campina Grande, vendeu o Landau mecânico e comprou um automático. O revendedor Ford da cidade, no entanto, não entregou o modelo. Estava à beira da falência. E a concessionária Vepel – esse era o nome – só não fechou porque Carlos Alberto decidiu comprá-la para salvar o Landau. Foi assim que o médico virou empresário.
O que aconteceu depois fez surgir um mito na indústria automobilística: o do vendedor insuperável. Aquela Vepel que antes comercializava 30 carros por mês triplicou seu volume de vendas em menos de dois meses. A Ford não só percebeu que havia algo de diferente ali como mandou alguns executivos a Campina Grande. Em seguida, Carlos Alberto foi convidado a analisar a compra de uma concessionária que ia mal das pernas no Recife – tempos depois, o mesmo fenômeno de multiplicação das vendas se repetiu. “Eles achavam que eu tinha um segredo, mas a minha lógica era simples”, diz ele. “Quem entra numa revenda, quer comprar um carro e eu não deixava ninguém sair sem antes fechar um negócio”. Uma história da qual Carlos Alberto jamais se esquece foi a de um sujeito sujo e maltrapilho que entrou na loja de Campina Grande carregando um saco de pão. Julgando o cliente pela aparência, os vendedores ficaram sentados. Carlos Alberto se levantou e foi até ele. O saco de pão era, na verdade, um saco cheio de dinheiro e dois automóveis foram vendidos de uma só vez. “Não conheço ninguém no mundo que tenha tanta habilidade para vender como ele”, diz um diretor da Ford, que preferiu não se identificar para não ferir susceptibilidades.
Em pouco mais de seis anos de vida empresarial, Carlos Alberto já era o maior revendedor Ford na América Latina. Foi também a convite da multinacional que ele veio para São Paulo, nos anos 80, com a missão de recuperar concessionárias problemáticas. E assim nasceu o grupo CAOA, que, hoje, tem um volume de vendas da ordem de R$ 1,5 bilhão por ano. Além da Ford, Carlos Alberto também tem revendas Subaru, que comprou de Benjamin Steinbruch, e é importador exclusivo da Hyundai. E foi com os coreanos que ele conseguiu realizar o sonho de ter uma fábrica própria. A oportunidade surgiu no fim dos anos 90, quando o senador Antônio Carlos Magalhães propôs uma lei de incentivos para Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com o objetivo de levar a Ford para a Bahia. Nesse novo regime automotivo, que conta com uma série de incentivos fiscais, 42 projetos foram apresentados. No entanto, só o da CAOA vingou e foi aprovado pelo Ministério do Desenvolvimento.
O estilo agressivo de Carlos Alberto, naturalmente, também gerou inimizades. Entre os concorrentes, muitos o vêem com um misto de desdém e inveja. Alguns, protegidos pelo anonimato, o qualificam até como “predador”. O dono do grupo CAOA, alheio às intrigas, também já comprou brigas com gigantes – a maior delas, com a Renault. No início dos anos 90, ele era importador exclusivo da marca francesa e quase se associou com os franceses na construção da fábrica no Paraná. No fim, acordou-se que ele teria exclusividade de vendas numa área que representava cerca de 60% do mercado nacional, mas o contrato foi rompido de forma unilateral pela Renault. O caso parou na Justiça e o que se discute agora é o valor da indenização a ser paga ao grupo CAOA. Embora Carlos Alberto não diga isso abertamente, uma de suas motivações com a fábrica Hyundai é superar, em vendas, a rival Renault.
“A fábrica também foi feita com todo o cuidado ambiental”, diz Miguel Horzath, diretor de operações da multinacional alemã Dürr, que foi responsável pela construção da linha de montagem. Um dos diferenciais é um processo chamado RTO, que produz a queima de todos os gases e reduz a praticamente zero a emissão de poluentes. “O que temos hoje em Anápolis é o estado da arte em matéria de tecnologia”, diz Horzath, que também montou uma fábrica da Hyundai no Alabama, nos Estados Unidos. “É uma de nossas melhores fábricas no mundo”, enfatiza o coreano Kim Tae-Hyub, que é um dos responsáveis pela qualidade da produção em Anápolis. E o sonhador Carlos Alberto já realizou mais um sonho: guardou para ele o primeiro carro produzido na fábrica, ou melhor, para um museu que pretende construir no próprio terreno da fábrica.
Luis Alberto Guedes
PB Agora, com Terra e blog O automóvel
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