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PEDRO MARINHO EM : A Procissão das Pedras

PROCISSÃO DAS PEDRAS

 

 

          O Roger, bairro da minha infância surgiu de um sítio denominado Alburínosa de propriedade de um inglês de nome Ricchard Roger, cujo sobrenome deu origem ao hoje populoso bairro da cidade de João Pessoa.

 

          O bucólico bairro, com sua frondosa e tradicional gameleira, plantada no início do século pelo morador Sizenando Paiva, traz muitas histórias envolvendo os seus moradores, destacando-se a construção da igreja erguida em homenagem à padroeira do bairro, Santa Terezinha.

 

          No final dos anos 20, o então Arcebispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, determinou ao Padre José Coutinho, que escolhesse um terreno no bairro do Roger, para ali edificar um santuário em homenagem à padroeira Santa Terezinha. O padre, segundo revela em seu diário, onde anotava todos os fatos de sua vida, imediatamente tratou de adotar todas as providências para cumprir a missão que lhe fora confiada.

 

          Ao iniciar a construção, logo surgiu o primeiro problema, já que a maioria da população, desejava que a edificação fosse feita nas proximidades da Associação Beneficente 2 de Setembro, localizada na Rua Belo Horizonte, atualmente Rua Borges da Fonseca, tendo ao fundo a Rua 18 de Novembro, hoje denominada Carlos Pessoa.

 

          Após muita discussão, ouvindo-se o Arcebispo Dom Adauto, foi escolhido para se construir o templo, um terreno localizado próximo as ruas onde a população inicialmente desejava que fosse edificada a igreja, ficando o terreno situado numa área, onde se avistava toda a região, que hoje após o povoamento passou a ser denominada de Baixo Roger.

 

          O início das obras foi muito difícil já que não havia recursos financeiros, tendo várias paróquias do Estado, enviado donativos para ajudar nas despesas, sendo a doação mais significativa a que foi feita pela Senhora Luiza Rocha, residente na cidade de Bananeiras, que doou a quantia de Rs3. 000$00 (três contos de reis), que representava uma grande soma na época.

 

          Durante a construção, surgiu outra grande dificuldade, pois para fazer o  alicerce do prédio com profundidade de 6 metros e 1 metro de largura, cujo mestre de obras era Antônio Frutuoso, conhecido por “Bigodão” ou “colher Lavada”, que também foi o responsável pelas reformas das torres das igrejas do Carmo, São Bento e São Francisco, tudo na gestão de Dom Adauto.  As pedras para tal fim eram trazidas de um terreno bastante distante, pertencente ao governo federal, localizado próximo a linha do trem, no Baixo Roger, cujos trabalhos eram executado pelos próprios moradores, que aos domingos num verdadeiro mutirão, que recebeu o sugestivo título de “Procissão das Pedras”, subiam e desciam a íngreme ladeira que separava a obra e a pedreira, trazendo nos ombros pesados blocos de pedra, tendo à frente o próprio Padre José Coutinho.

 

          Já concluída a fase da sapata, no ano de 1932, o Padre José Coutinho contra a sua vontade, foi designado por Dom Adauto para ir trabalhar na Catedral Metropolitana, onde ali também realizou grande reforma naquele prédio que se encontrava bastante danificado, mudando caibros, ripas, telhas, fiação elétrica e as pinturas que até hoje embelezam aquela igreja.

 

          Com a saída do Padre José Coutinho, foi formada uma comissão para dar prosseguimento a obra, composta por Joaquim Cavalcanti, que era o Presidente, Venâncio Tiburcio e o fiscal Samuel Norat, sendo contratado o arquiteto Antônio Gama.

 

          A construção já na sua etapa final ficou a cargo do Padre Ruy Vieira e do comerciante João Lombardi, sendo finalmente concluída quando se encontrava à frente da Diocese, Dom Mário Vilas Boas. A imagem do Sagrado Coração de Jesus, que ornamenta a igreja, foi adquirida pelo Senhor Henry Malzac, que a importou da França, pagando a quantia de Rs800$00 (oitocentos mil reis). Finalmente estava edificada a Igreja Santa Terezinha, graças ao trabalho dos abnegados moradores do Bairro do Roger e principalmente do saudoso Padre José Coutinho, um exemplo do sacerdócio paraibano.           

     

 

 

Pedro Marinho