O inconstante é um incôngruo, nunca almeja a constância, embora precise da constância para ser inconstante, se não existisse a constância não haveria inconstantes, que são o contrário dos constantes. De certa forma, há quem se incomode ao ser chamado de inconstante, até parece sem firmeza nos seus princípios, nos seus juízos, nos seus valores. Tenho ouvido falar da constância desde pequeno: a constância na Matemática, na Física, na História, as constantes culturais, como também cheguei a ler L’Histoire n’a pas de sens (A História não tem sentido), de René Sédillot, outras constâncias: além das humanas, as econômicas, as geográficas, as urbanas, as monetárias, as fiscais que me convenceram da obrigação de pagar impostos e tributos às obras públicas de educação, saúde, transporte, segurança e outras mais do nosso bem-estar.
Também “As constantes inconstantes da História”, contudo não gostaria de ser considerado um inconstante, embora dialeticamente a civilização só sai do lugar com inconstância das costumeiras vivenciadas constâncias… Mas algumas constâncias necessariamente continuam, sem elas não aconteceriam os fundamentos dos avanços e até da própria evolução… A História nos ensina que a humanidade se conduz na ordem e na desordem; no planejamento e nas casualidades; no progresso e no recuo, enganando até alguns profetas.
Na Apologia de Sócrates, de Platão, o fenomenal Sócrates, dialogando com Êutifron Sobre a Piedade, indaga-lhe: – Diga lá: o que você afirma ser o piedoso, e o que o ímpio? E mais a frente, abordando um suposto homicídio de um homem caído num poço, interroga Êutifron:- Será então que tudo que é justo também é piedoso? Trouxe à leitura a minha convicção de que qualquer um cidadão pode vir a ser piedoso, diante de um direito que é seu, unicamente pessoal, mas nunca a respeito de um direito alheio, que não é seu.
Face a isso, aquele que tem como função pública julgar coisas e fatos de outras pessoas, nunca suas, mas pertinentes a outro, a outros ou a todos, é juiz para objetivamente julgar sem qualquer suspeição, sobretudo com o extremo cuidado de evitar alguma subjetividade que o leve à suspeição. Ainda, levar à luz da Justiça, seguindo a Lei, senão os bons costumes e valores, o que estiver sob juízo, e juízo não é opinião…
Nesse sentido, o uso da toga impede sentimentos de piedade, de misericórdia. A Justiça é justa, quando age a favor, sem piedade, do direito de alguém, de um outro, de muitos ou de todos. Por isso, a constância da Justiça não faculta a piedade, e se constitui dever do Juiz não perdoar para ser piedoso ou não ser piedoso ao perdoar. E tão somente considerar a Lei e a evidência das coisas e dos fatos. Nesse aspecto, jamais quem exerce tal função pública, data venia, jamais poderá ser bom em razão da misericórdia, mas constantemente íntegro, quanto à pura Justiça, sem pensamento duplo.
Ninguém se atemorize por ter sido constantemente justo. Horácio (Odes, III, III) assim assegura: “Ao varão justo, firme em seus propósitos, não abala em sua decisão sólida nem a paixão dos cidadãos a exigir coisas injustas, nem as insistentes ameaças do tirano, nem o vento Austro, dono turbulento do inquieto Adriático, nem a poderosa mão de Júpiter fulminante. Se o mundo se desmoronasse, caindo em pedaços, suas ruínas feri-lo-iam sem assustá-lo”.