O grito que a escola não pode ignorar (Tania Castelliano)

Existe um grito que não sai pela boca.
Ele aparece nos olhos baixos, nas notas que despencam, na mudança repentina de comportamento, na criança que antes sorria e agora evita até o próprio nome.

Esse grito silencioso é o maior desafio da educação moderna:
o abuso infantil que acontece dentro de casa e se revela dentro da escola.

O que muitos ainda não compreenderam é que professores, coordenadores, merendeiras, inspetores e até colegas de sala são as primeiras testemunhas desse sofrimento invisível.
Não porque veem o ato — mas porque percebem as marcas.

E é aqui que começa o papel transformador da educação.

Por que falar disso em um blog educacional?

Porque o Brasil ainda tem uma cultura do silêncio.
Porque muitas crianças só são salvas quando “alguém da escola percebeu”.
E porque não existe futuro saudável quando a infância está adoecida.

Sinais que a escola pode identificar

(de maneira educativa e acessível)
 • Mudança brusca de comportamento
 • Aversão ao toque ou à aproximação física
 • Falta de concentração
 • Regressão de habilidades (chupar dedo, urinar na roupa, medo de ficar sozinho)
 • Agressividade repentina
 • Medo irracional de determinada pessoa

São sinais simples, mas é preciso preparo para entender o que significam.

O que a escola precisa saber?

Que não se investiga — se acolhe.
Que não se julga — se observa.
Que não se silencia — se comunica aos responsáveis competentes.

E que a vida de uma criança pode mudar com uma única atitude responsável de um adulto atento.

A educação como proteção

Uma escola que compreende o grito silencioso de seus alunos não é apenas uma instituição de ensino:
é uma fortaleza emocional onde a infância é protegida.

Falar sobre abuso infantil não é falar de violência.
É falar de prevenção, de direitos, de cuidado e, sobretudo, de vida.

E, neste tempo em que tanta coisa muda, onde redes sociais gritam mais alto que os valores, talvez o maior avanço da educação seja ensinar algo básico:

A criança não precisa falar para pedir socorro.
Ela precisa que alguém saiba ouvi-la.