Com a bagagem guardada no Hotel Globo, o jornalista potiguar Joaquim Ignácio entrou no trem da Great Western e foi até o fim da linha, em Bananeiras, ainda não inaugurada. De Borborema até o túnel da Serra da Viração, foi transportado em um carro de linha, na companhia do engenheiro da obra. Era o ano de 1924, ultimo do mandato do presidente Solon de Lucena.
O jornalista passou 14 dias entre nós e relatou em um pequeno livro, as grandezas da Parahyba de então. De automóvel percorreu a cidade na companhia de José Américo, Guedes Pereira e João Suassuna. O primeiro, seu colega de turma na Faculdade do Recife, tratava-o por José de Almeida e o segundo, prefeito nomeado da cidade. O terceiro, já estava escolhido para ser o próximo presidente do Estado. Ao sair do Hotel Globo, “um vasto edifício olhando para o rio” (não era o prédio que hoje conhecemos do mesmo hotel) se via uma área ocupada por manilhas de barro vidrado que seriam utilizados nos esgotos da cidade. Era o esforço iniciado pelo presidente Castro Pinto que ganhava continuidade com Solon de Lucena. Circundando o prédio da Alfandega, um depósito a céu aberto de materiais “vestígio monumental da construção de um porto que se tentou fazer ali”.
Impressionou ao visitante o vasto comercio que ocupava a rua Maciel Pinheiro. Cerca de setenta prédios até chegar à Associação Comercial que deveriam acumular um stock de aproximadamente cem mil contos em mercadorias as mais variadas. O prédio da Associação, também objeto de visita, ´”é um edifício de notáveis proporções com escadarias de mármore para o pavimento térreo bem elevado e para a andar superior” e foi inaugurado por Epitácio Pessoa quando de seu regresso da Europa (1919) já escolhido Presidente da República. ‘O prédio, com o respectivo mobiliário e instalação de luz elétrica, informa o dr.Isidro Gomes, presidente da Associação, custou cerca de 136 mil contos e foi obra dos construtores Cunha & Di Lascio, mediante concorrência pública”.
Da frente do prédio da Associação Comercial partia a linha de bondes em direção ao Ponto de Cem Reis. Daí, a linha se bifurcava para Tambiá e Trincheiras. O usina elétrica ficava nos confins do bairro de Tambiá. O acesso à Cidade Alta, narra o visitante, se faz por uma rua em rampa muito forte, “que desimboca em uma pequena esplanada, a Praça Pedro Américo” onde se encontra o Teatro Santa Rosa, o Quartel da Policia e o Tesouro do Estado, No prédio do Tesouro se abrigam ainda o Fórum e a Assembleia Legislativa. A partir da Catedral, se estende “uma das mais formosas artérias da cidade”, a General Osório, urbanizada pelo presidente Camilo de Holanda.
Na Cidade Alta, a gestão do bananeirense Guedes Pereira “está construindo a Praça Vidal de Negreiros onde, ao centro, se ergue um relógio e um abrigo para a espera de bondes, com sanitários públicos”. Além dessa praça, surgiu nessa época a Praça da Independência que, se junta às belezas da praça Venâncio Neiva e Comendador Felizardo, hoje Praça João Pessoa. Na Praça Felizardo ficava a Imprensa Oficial, a Escola Normal (Palácio da Justiça), o Palácio do Governo e o Liceu Paraibano.
Seguindo em frente na direção da Avenida Trincheiras, o jornalista registrou a beleza dos palacetes ali erguidos e a balaustrada que, construída por Camilo de Holanda permite se avistar o povoado de Cruz das Armas. Antes, passou pela Igreja de Lourdes onde uma placa alude à imolação de Peregrino de Carvalho, “a meu ver, a figura central da historia da Parahyba, sumariando, aos 17 anos, a bravura, o civismo , a ânsia de liberdade de seu povo”.