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      Contra o fim de escrever à mão (Damião Ramos Cavalcanti)

 

            

          Os povos primitivos pareciam ter iniciado uma longa e imortal invenção: associar ideias às mãos para realizar escrita e desenhos, que chegaram primeiro do que as letras que se aperfeiçoaram e, unidas, começaram fazer a escrita da palavra. As primeiras iniciativas de comunicação mais antigas foram através de pinturas rupestres e de sistemas mais rudimentares, contudo,  há 3200 a.C., a escrita se desenvolveu na Mesopotâmia e eu dei continuidade em Pilar, em 1952, na alfabetização, pela paciência de Dona Toinha e pedagogia da Professora Francinete. A continuação prosseguiu no Colégio Nossa Senhora da Conceição, com Irmã Lenice, preenchendo vários cadernos de caligrafia, método também usado no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, para que nossas caligrafias não se assemelhassem às de médicos, que desaprenderam a boa forma das letras na Universidade, obrigados a escrever as aulas de medicina, de professores que não repetiam o que ligeiramente diziam… Por isso, já houve  bons médicos que, formados, não sabiam ler a sua própria receita.
          Quanto a esse assunto, a coisa se tornou mais grave com quem se habituou e se viciou a escrever no celular coisas corriqueiras, basbaquices mal feitas, derivados de fake news, com expressões próprias e inadequadas abreviaturas, esquecendo por completo a possível arte de escrever, o que se faz com lápis ou caneta, num papel. Já proibiram celular na sala de aula, falta proibi-lo na hora de escrever, riqueza e inteligente habilidade que ganhamos, vinda das primordiais e engenhosas civilizações. As palavras e expressões nos whatsapp da vida são as mesmas e repetitivas… 
         A Universidade de Stavanger, na Noruega, a fundo pesquisou sobre  a diminuição da capacidade de escrever à mão daqueles que não largam o celular e as redes sociais. Uma das conclusões revelou, após um ano focado em escrita digital, que 40% dos estudantes apresentaram dificuldades na caligrafia, incluindo letras ilegíveis, palavras incorretas e repulsivo desconforto físico ao escrever à mão. Ainda, a conclusão de que  uso exclusivo da escrita digital afeta a capacidade de escrever à mão.  Além disso, tais pesquisadores e  especialistas apontam que a não prática da escrita manual diminui também o “desenvolvimento de habilidades cognitivas e a capacidade de expressão escrita de forma mais elaborada”. A solução será utilizar menos os meios da escrita digital e aumentar o da  tradicional escrita à mão.
        Outros estudos sugerem que a escrita à mão influencia no desenvolvimento cognitivo e no processo de aprendizagem; a casos mais graves, recomenda-se a substituição da utilização exclusiva digital, até que os alunos readquiram a fluência perdida da correta e boa caligrafia, sem dificuldades para se expressarem de forma clara, lógica e estruturada. Enfim, “escrever à mão ativa muito mais áreas do cérebro, ligadas à memória e ao processamento da linguagem, ajudando na compreensão e retenção do conteúdo”. Outra importante revelação foi a de que a escrita à mão ajudou mais os alunos a organizar as ideias e a desenvolver o pensamento crítico. 
         Desde 2005, além de outros textos, semanalmente escrevo uma crônica como esta, primeiramente em duas folhas, com caneta de pena e tinteiro, para depois digitá-la ao e-mail do jornal. Somente na forma digital, não encontrei a mesma criatividade, leveza e poesia que  achei ao escrever à mão. Contra o fim de escrever à mão, encontre-se o equilíbrio entre  preservar as habilidades e o uso da tecnologia, antes que desapareçam lápis, caneta, papel, palavras e sobretudo os que sabem escrever à mão…   

 

Damião Ramos Cavalcanti

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