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UMA ALEMÃ NASCIDA NO BREJO         RAMALHO LEITE

A professora Erna Wildt da Rocha segue os passos de sua avó Maria Salomé da Rocha, Dona Dondon, que se despediu deste mundo após completar cento e seis anos de vida. A querida professora da Escola Vidal de Negreiros acaba de registrar seus cento e um anos de nascimento. Órfã de pai e mãe teve na avó a sua referencia materna. A mãe Bernardina da Rocha partiria aos trinta e três anos deixando viúvo o alemão Érico Robert Wladimir Wildt. Interessante saber como esse germânico aportou nas terras de Bananeiras e ali constituiu família.
Bananeiras vivia o auge da civilização do café. Antônio Rocha, casado com Ana Agueda, mais conhecida como Donana, adquiriu no Recife um maquinário para despolpar café e arroz. Faltava-lhe, porém, um técnico capacitado para a montagem dessa indústria, instalada no que se chamou depois de Beco do Vapor, em alusão à engrenagem transformadora. O aflito cafeeiro tomou conhecimento de que, entre os detidos em um Convento de Olinda, em razão da entrada do Brasil na Primeira Guerra (1914), estava a tripulação de um navio que aportara no Recife para se abastecer de gêneros de primeira necessidade. Entre os tripulantes, havia um mecânico capaz de atender aos anseios do cafeicultor bananeirense. Antonio Rocha firmou um documento de responsabilidade e o alemão lhe foi entregue.
Chegando a Bananeiras para cumprir sua missão, o “inimigo” conheceu Dina, na casa de Antonio Rocha, segundo conta seu neto Maurilio Almeida. A distancia para o casamento foi muito curta e a felicidade do casal durou o suficiente para deixar uma prole constituída de tres filhos: Wladimir, Herta e Erna. A criação e educação dessas três netos órfãos, tornou-se a missão de sua vó Dondon. Ao completar cem anos, em entrevista ao seu ex-aluno Villibaldo Cabral, a professora Erna lembrou que, a partir de certa idade, foi ela que passou a cuidar da sua avó Dondon.
O alemão Wildt, terminada a febre do café, derrotado pelo cerococus paraibensis, fez sociedade com seu patrício Cristian e radicou-se em Alagoa Grande onde uma grande oficina cuidava de fazer peças e consertá-las, para manter funcionando os engenhos de rapadura e de cachaça da região brejeira.
Sempre quis escrever sobre a presença desses filhos da Alemanha entre nós brejeiros. Em Bananeiras um outro de nome Frederico Kramer chegou a negociar com café, foi gerente da Usina Hidroelétrica de Borbrorema e depois, mudou-se para Natal. Harry Kramer fixou-se em Borborema com oficina mecânica e casou-se com uma filha de Adelson Lucena, constituindo numerosa família. O ultimo que conheci, Guiherme Grot, foi comerciante em Moreno(Solânea) até que queimaram sua loja no inicio da guerra na Europa, quando se transferiu para Borborema onde estabeleceu-se como comerciante em sociedade com o meu pai, Arlindo Ramalho.
Enveredei pela vida dos alemã mas não esqueci que meu espaço hoje é dedicado a essa ilustre professora do Escola Vidal de Negreiros, com mais idade que a escola onde lecionou, educou, fez amigos e admiradores, a alemã nascida no brejo Erna Wildt da Rocha. Para ela, os meus parabéns na passagem dos seus cento e um anos de vida.

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