Conhecido como Rei do Ovo, o empresário Ricardo Faria recorreu a ferramentas de financiamento público para construir seu império e se tornar um dos homens mais ricos do país.
Entre 2007 e 2024, o bilionário conseguiu pelo menos 71 empréstimos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de acordo com levantamento da coluna no site da estatal. Juntos, os financiamentos totalizam R$ 132 milhões em valores atualizados.
Na última semana, o Rei do Ovo se tornou alvo de críticas após dizer que pobres estão “viciados” no Bolsa Família. O comentário foi feito em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
“Está um desastre no Brasil”, afirmou o executivo, ao ser questionado se tem dificuldade para contratar. “As pessoas estão viciadas no Bolsa Família. Não temos nem a chance de trazer essas pessoas para treinar e conseguir uma vida melhor, porque elas estão presas no programa”, acrescentou Ricardo Faria.
Em suas entrevistas, o bilionário costuma se orgulha de seu espírito empreendedor, mas esconde o apoio do Estado que teve para desenvolver seus negócios.
Ricardo Faria é proprietário da Granja Faria, maior produtora de ovos comerciais, férteis e pintos no Brasil – o que lhe rendeu o apelido de Rei do Ovo. A empresa foi fundada em 2006. Desde então, a companhia obteve 29 financiamentos públicos junto ao BNDES, totalizando R$ 54,5 milhões.
Mas sua guinada nos negócios começa muito antes. Aos 8 anos de idade, vendia laranjas e picolés, segundo conta.

Aos 20, ele fundou a Baslave – que mais tarde se tornou a Lavebras Gestão de Têxteis. A empresa possui foco em lavanderias industriais e aluguel de roupas. Desde 2007, a companhia recorreu a 39 financiamentos do BNDES, obtendo R$ 11 milhões em valores atualizados.
A Lavebras Gestão de Têxteis foi vendida em 2017 por R$ 1,3 bilhão para a francesa Elis.
Já em 2021, o Rei do Ovo criou a Terrus SA, produtora de grãos na região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Um ano depois, a empresa obteve três empréstimos junto ao BNDES, somando R$ 66 milhões.
A maioria dos financiamentos obtidos pelas empresas de Ricardo Faria foram realizados através do BNDES Finame, que objetiva a produção e aquisição de máquinas e equipamentos. Em média, a taxa de juros foi de 4,9%.
O que o Rei do Ovo diz sobre financiamentos do BNDES
Procurado, Ricardo Faria enviou uma nota minimizando os recursos milionários obtidos junto ao BNDES. O Rei do Ovo acrescentou que todos os empréstimos foram devidamente quitados. Leia a íntegra do comunicado:
“Com quase 30 anos de história, a Granja Faria SA e a Terrus SA se orgulham de gerar cerca de 4 mil empregos diretos no Brasil. A consolidação do grupo é resultado de muito trabalho e do investimento contínuo, sendo que os financiamentos utilizados para seu processo de expansão, por meio de aquisições, no período de 2008 a 2025, foram, em sua imensa maioria, provenientes de crédito privado.
Ao longo de todo esse período, é mínimo o volume de captação de recurso junto ao BNDES, representando menos de 1% do capital total. Portanto, é irrisória a utilização pelo grupo de recursos públicos frente ao montante obtido de crédito privado junto ao mercado.
Cabe destacar, inclusive, que a linha de crédito concedida à Terrus SA de R$ 58 milhões via Banco Santander, por meio de um programa do BNDES para aquisição de bens industrializados, foi realizada em 18 de outubro de 2022 e quitada em 15 de abril de 2023, em seis meses.
E foi um processo similar de contratação de empréstimo feito junto a um banco privado, que disponibilizou a linha de crédito do BNDES, a que se referem os outros R$ 36 milhões realizados pela Granja Faria SA. Todos em conformidade com os programas oferecidos.
Por fim, embora não seja majoritariamente utilizado, o BNDES tem o reconhecimento do grupo pelo cumprimento de importante papel no fomento do desenvolvimento nacional, servindo de apoio para diversos empreendedores brasileiros.”