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Ubuntu-Botho aos retirantes

 

Hoje, 20 de junho, comemora-se o Dia Mundial dos Refugiados, os quais merecem mais respeito, dignidade e homenagens do que comemoração, e também acolhida, como fez o Papa Francisco aos que estavam, à deriva no mar, rejeitados por países às portas dos seus destinos. Pior, quando Trump aprisiona mãos e pés, com correntes de ferro, dos refugiados já estabelecidos, cujo refúgio seria apenas trabalhar, ou que a perseguição consistiria simplesmente no desemprego.
          Há dois tipos de problema. O primeiro, aqueles que se resolvem; o segundo, os que não se resolvem… Só se emigra, quando o problema não é resolvido em casa, na sua terra, na sua pátria. Até aqui, o cidadão, pai de família, com mulher e filhos, torna- se pintura de Cândido Portinari, em Retirantes, de migrantes nordestinos, tentando escapar da seca e da fome, à procura de melhores condições de vida para si e suas crianças. O artista plástico retrata, com perfeição em tonalidades, tal “terrorismo” da miséria. Também igrejas e museus ostentam a fuga emblemática, por famosos pintores, como Giotto, da Família Sagrada, que trazem à contemplação o relato de Mateus (2, 13): José, Maria e Jesus em “fuga para o Egito e o massacre dos inocentes”, o que se repete com as crianças palestinas na faixa de Gaza, sem citar o nome do atual Herodes…
         Vendo a Copa do Mundo de Clubes, jogavam a equipe sul coreana (Ulsan HD) e a sul africana (MSU – Mamelodi Sundowns), que venceu a partida. Mas sua vitória, nessa Copa, consagrou-se pelo que eles africanos, diferentemente dos outros times, estamparam, com destaque, em suas camisas: Ubuntu-Botho , da língua bantu, que expressa todas as qualidades altruístas e consciência de benevolência, que um membro pode ter para sua comunidade. Em termos de uniforme, as outras se limitavam à publicidade de bets, de coisas de crédito, e doutros símbolos de business ou do mundo financeiro. Assim, o MSU ganhou a copa, antes terminar o primeiro tempo, da sua estreia, sobre o que nenhum comentarista teceu alguma palavra ou teceu alguma consideração. Por ignorância, mas sobretudo porque, entre eles e entre nós, para compreender tais palavras, falta Ubuntu-Botho. E ninguém deseja ou promete dar o que não tem…
           Ubuntu sintetiza o que várias comunidades africanas ensinam nas suas famílias e nas suas escolas: “Eu sou porque nós somos”. Ou que significa que um indivíduo só se torna pessoa, ao existir e ao fazer crescer sua relação com os outros membros da sua comunidade. Já o conceito de botho reforça mais ainda essa ideia: alguém é uma pessoa à medida que seja “uma pessoa através de outras pessoas”. Essa filosofia africana, pelo menos, vem servindo para fundamentar os discursos da ONU e da Unesco, no sentido de que se promovam o crescimento e o desenvolvimento comunitário entre os povos, realizando assim o bem-estar de todos.
          Ah! Se os nossos deputados pensassem ubuntu, quando se pronunciam e votam legislando… O bom desse ensinamento africano, ética e moralmente, orienta-nos às boas ações coletivas ou do coletivo; alimenta o desenvolvimento comunitário; aguça nossa empatia com os outros nas dificuldades do trabalho; e se torna exemplo de conduta como pessoa que pratica ubuntu.
         Ser retirante se traduz como aquele que se retira de casa, portanto engloba os refugiados; os exilados por razões políticas; os imigrantes; os migrantes por qualquer motivo. Como eles fazemos parte da humanidade, essa sagrada comunidade. No dia de hoje, desejamos aos que estão na estrada, fora de casa, aos retirantes: Ubuntu-Botho!

 

Por Damião Ramos Cavalcanti

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