
É inegável que, nas últimas décadas, conquistamos avanços significativos na inserção das mulheres no mercado de trabalho. Esse tema tem sido amplamente discutido, e não faltam exemplos de mulheres que romperam barreiras e alcançaram posições de destaque. No entanto, essa evolução ainda é insuficiente. A desigualdade de gênero persiste em todas as esferas, e na atividade do Turismo, não é diferente. Ah, o Turismo! Uma atividade que respira, vibra e se sustenta graças à força, à criatividade e à dedicação das mulheres. Mas onde está o reconhecimento que merecemos?
O cenário é desafiador: segundo a Organização Mundial do Turismo (ONU Turismo), as mulheres representam 54% da força de trabalho no setor. No Brasil, o Ministério do Turismo tem 55% de seu quadro composto por mulheres. Nos setores de alojamento e agências de viagens, as mulheres são 58,9% e 54,6% dos trabalhadores, respectivamente. Entre os guias de turismo, 51% são mulheres. E mais: 70% dos discentes dos cursos técnicos de Turismo no país são mulheres. Os números falam por si só: o Turismo é uma atividade feminina. Mas, infelizmente, as mulheres ainda não ocupam o lugar que lhes é de direito.
Um episódio que marcou minha trajetória e que ainda me causa indignação foi a entrega do Prêmio Nacional do Turismo de 2018. Naquele momento, o então ministro Vinícius Lummertz homenageou as “personalidades” que contribuíram para o desenvolvimento do Turismo no Brasil. Surpresa? Nenhuma mulher foi chamada ao palco. Nenhuma. Onde estavam as mulheres? Estavam na plateia, é claro. Mas, aparentemente, eram invisíveis para quem comandava o evento.
E, infelizmente, essa não foi uma exceção. Na abertura da ABAV Expo 2024, a maior feira de Turismo da América Latina, o cenário se repetiu. Na mesa de autoridades, predominavam homens. Apenas a presidente do evento, Ana Carolina Medeiros, estava presente. Onde estavam as outras mulheres que fizeram e fazem o Turismo brasileiro brilhar? Será que não há mulheres extraordinárias na atividade, capazes de sentar à mesa e discursar, liderar, tomar decisões?
Fica a pergunta: onde estão as mulheres do Turismo? Onde vivem, quantas são, o que pensam? Perguntas como essas ecoam no ar, mas parecem não encontrar respostas concretas. E enquanto refletimos sobre isso, as desigualdades continuam. No transporte aéreo, por exemplo, as mulheres recebem 46% a menos que os homens. E isso não é só sobre salários; é sobre oportunidades, visibilidade, reconhecimento.
E não pense que essa é uma “opinião” de feministas raivosas, tipo haters, que odeiam todos do gênero masculino. Não é! O que buscamos é a igualdade, o respeito, a equiparação salarial, a visibilidade e a oportunidade para mulheres em todas as esferas e ambientes da atividade do Turismo. Não queremos privilégios, apenas o reconhecimento do nosso valor e o fim das barreiras que nos mantêm em desvantagem.
Mas, afinal, o que desejamos? Desejamos que o respeito e a valorização sejam ações diárias, não apenas discursos no Dia Internacional da Mulher. Desejamos salários justos, que reflitam nossa contribuição. Queremos cadeiras à mesa de decisões, onde nossa voz possa ecoar com autoridade e representatividade. Almejamos um cenário em que liderança e visibilidade sejam distribuídas com equidade, reconhecendo que somos não apenas parte, mas a essência do Turismo. Pois, afinal, somos nós, mulheres, que sustentamos e movimentamos esse setor com nossa dedicação e talento.
É verdade: o Dia Internacional da Mulher é importante. É um momento de refletir, celebrar e lutar. Mas, mais do que homenagens, precisamos de ações concretas. Precisamos que a sociedade, os governos e as empresas entendam que as mulheres não são invisíveis. Somos a maioria no Turismo, e essa maioria merece respeito, igualdade e oportunidades.
Enquanto isso não acontecer, continuaremos a perguntar: onde estão as mulheres do Turismo? Nós “ainda estamos aqui”. Somos guias, agentes, administradoras, líderes, estudantes, sonhadoras. Estamos construindo o Turismo do Brasil todos os dias. E não vamos parar. Lutaremos até que a igualdade deixe de ser um discurso e se torne, enfim, uma realidade.
Afinal, nós existimos. E existimos todos os dias.
Fonte Alessandra Lontra