
JANEIRO É O MOMENTO de estender um tapete entre Campina Grande e o litoral. Para os mais aquinhoados, eles seguem para suas casas de verão antes do réveillon e curtem a passagem para o ano novo na praia, dando os famosos três pulinhos nas ondas do oceano atlântico. De Jacumã (Conde-PB) subindo por João Pessoa, Cabedelo, Lucena, Rio Tinto e Baía da Traição, as prefeituras promovem uma queima de fogos que animam os corações e o sentimento de passagem. Para a grande maioria da população, é escolher um fim de semana e fretar um ônibus, ou se for agraciado com as férias no trabalho nesse período, é conferir uma oportunidade, pegar uma carona e seguir para curtir uma praia, “salgar (saigá) a matéria”, como sempre me diz o meu amigo Agenor Batista de Lima.
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Descer a Serra da Borborema tem algo de magia, os ouvidos estralam, a vegetação vai mudando, os cheiros da estrada também. Até chegar ao Riachão do Bacamarte, é uma descida abrupta em que a sinuosidade da estrada ameniza o efeito da descida, mas são mais de trezentos metros, não é pouco. Falando ontem com o meu querido amigo José Edmilson Rodrigues, que está de férias na praia de Camboinha, ele disse que a estrada está um tapete, ou estenderam um tapete para ele, pois não enfrentou nenhum empecilho e a viagem com sua esposa, nora e neto mais novo, fluiu tranquilamente.

Encarar esses 120km é uma moleza em um tapete como esse. Lembro que no auge do apresentador, a época na Rede Globo, Faustão, quando veio conhecer o Maior São João do Mundo, afirmou que a estrada entre João Pessoa e Campina era uma das melhores do país. E continua sendo por excelência. Mas estávamos falando dos mais aquinhoados, dos comerciantes, industriais e de uma elite que toma conta e povoa praias como a do Poço, Bessa, Camboinha, e o que dizer da Praia de Campina? É como ir ao shopping principal da cidade, ir a uma dessas praias é a certeza de encontrar muitos conhecidos, conterrâneos. Lembrei agora de quando vim de Santos para Campina e fiz uma baldeação no Rio, no aeroporto do Galeão, ali encontrei Fechine, Fialho, alguns políticos da terra, e um monte de conhecidos. É como se já estivéssemos no calçadão da Cardoso Vieira, em casa, pensei eu: Campina está aqui voltando para a terrinha.
É inegável que andar por Campina nesse mês vemos um trânsito mais tranquilo nas áreas centrais, mas diferente do que encontramos nas periferias que pulsam da mesma maneira que o ano todo. É deles que quero falar, com seus parcos recursos, com sua insuspeita alegria, sua indelével harmonia e suas vidas entremeadas e transpassadas por diversas situações em uma encruzilhada de perspectivas do que é e do que pode ser. Ter um mês de verão viscoso, forte, vigoroso, anima as intenções, alimentam os corações.

Os menos aquinhoados, os habitantes das periferias, os trabalhadores mais modestos, de situação de sobrevivência. Moradores de aluguel, gente pobre, que não espera muito. Cultua as quatro festas do ano e também o que consegue aproveitar. Um tal vereador conseguiu um ônibus fretado, vai sair no próximo domingo. Quarenta e cinco são suas cadeiras, mas com crianças, sempre dá para levar mais gente.
A festa se inicia na noite anterior, onde uma animada festa reúne esses populares em torno de uma fogueira, músicas diversas são cantadas e relembradas, em clima de harmonia, todos se regozijam e em breve o ônibus chega. Seis da manhã e a promessa se tornou realidade, o ônibus chega, entram nos aposentos os viajantes. Alguns bêbados, outros sonolentos, comidas feitas para serem apreciadas na praia, as crianças se embolando de rir e brincar e a viagem se segue, o tapete já foi estendido. Muitos falam que é uma farofada, até depreciando essa cultura popular, mas é uma confraternização humilde de pessoas menos abastadas, que sorriem com a própria dor, mas sabem ser felizes pelo menos uma vez ao ano.
São esses populares que tem suas vidas encruzilhadas entre o árduo trabalho e a chance de se divertir. Todos, absolutamente, descem por esse tapete ao mar, para sentir, para se elevar. É alegria, festejo, é glória, tudo em suas possibilidades, contemplar a imensidão do infinito e render graças a Deus, na torcida para que no próximo ano esse tapete ao mar possa ser possível. Amém!
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