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FESTA JUNINA VIROU CAPITAL POLITICO

 

O mês de junho está se aproximando e muitos prefeitos da Paraíba- mesmo diante de uma das maiores secas dos últimos tempos- decidiram que não vão abrir mão desse “capital político”, que foi muito bem utilizado pelo ex-governador e ex-senador Ruy Carneiro, nos anos 60 e 70, conforme assegura o historiador José Octávio de Arruda Melo. Segundo o historiador, o ex-senador Ruy Carneiro comparecia rigorosamente à festa de Santo Antônio, na cidade de Piancó, todos os anos. 

 

 

A festa de Santo Antônio dá início aos festejos juninos. Segundo José Octávio, Ruy Carneiro iniciou o processo de “capitalização política” das festas juninas, a partir de Piancó. “Algumas decisões políticas da Paraíba foram tomadas na festa de Santo Antônio, a exemplo da escolha de Tarcísio Burity para candidato a governador, em 1986, quando Ruy já tinha morrido. Burity foi escolhido para ser candidato a governador no dia 12 de junho de 1986”, assegura o historiador.

 

 

Autor do livro História da Paraíba, Lutas e Resistências, que está na 12ª edição, José Octávio disse     que os políticos usam as festas juninas para obter dividendos eleitorais, principalmente em anos de eleição, como 2012. “As festas juninas são muito estimuladas pelos políticos. Eles acham que ganham votos ao reunirem, num show em praça pública, milhares de pessoas”, declarou. 

 

 

E foi pensando no capital político que muitos prefeitos já fecharam os contratos com os artistas que vão animar as festas em homenagem a três dos santos católicos romanos mais populares do Brasil: Santo Antônio, São João e São Pedro. Esses prefeitos estão, como afirma o ditado popular, entre a “cruz e a espada”.

 


 

O bicho pega

 

 

Se correrem, o bicho pega, se ficarem, o bicho come. Traduzindo: o prefeito que realizar as festas juninas aparece bem diante da população em ano eleitoral e ganha votos. O que não realizar, será criticado pela maioria da população e perderá votos.

 

 

Quem fica confortável diante desse quadro é a oposição, que pode atacar- de todas as maneiras- o prefeito candidato à reeleição ou o candidato por ele apoiado. Em todos os recantos do Estado, a oposição está com o discurso afiado e na ponta da língua. 

 

 

Como pode o prefeito realizar festas juninas- contratando bandas e cantores caríssimos- num momento como esse, quando a população padece diante dos efeitos da seca? Como realizar o São João, se falta água para o consumo humano, se os animais estão morrendo, se o povo está passando fome? Indagarão alguns adversários dos prefeitos que já decidiram fazer a festa. 

 


 

Adversários

 

 

E os adversários dos gestores que decidiram não realizar as festas poderão dizer: como pode uma festa tradicional como o São João deixar de ser realizada? É incompetência. Por que deixar a cultura morre? O prefeito poderia pelo menos ter contratado uma banda de forró pé-de-serra para colocar em praça pública e animar a população. 

 

 

É isso que estão fazendo alguns gestores que foram obrigados a decretar situação de emergência, depois de terem elaborado uma programação festiva para o mês de junho. O prefeito de Taperoá, Deoclécio Moura, disse que fez a programação das festas juninas bem antes do agravamento da seca e de decretar situação de emergência. 

 

 

“Diante da nova realidade da seca, eu só tinha só tinha duas opções: suspender a festa por completo ou refazer toda a programação e contratar apenas artistas da terra que custariam valores muito baixos. Decidi pela segunda opção”, disse Deoclécio. Segundo ele, a festa com artistas da terra se pagaria.

 

 

Adversário não critica

 

 

O pré-candidato a prefeito de Patos pelo DEM, Dinaldo Wanderley Filho, não ousou criticar a realização da festa pelo prefeito Nabor Wanderley (PMDB). As festas juninas de Patos estão entre as maiores do Brasil. “Não sou contra o São João, mas a Prefeitura precisa fazer um planejamento”, disse Dinaldo Filho, em entrevista à rádio Tabajara. 

 

 

Segundo ele, a Prefeitura precisa se preparar para eventualidades como a seca e conciliar as duas coisas. “É preciso planejamento para que, quando chegar a estiagem, a cidade possa ter festa sem onerar os gastos públicos”, disse. Segundo ele, “é preciso investimentos consistentes para se ter água e festa. 

 

 

“É isso o que está fazendo o prefeito Nabor Wanderley, já que Patos foi contemplada com recursos do Ministério do Turismo, obtidos por intermédio do deputado federal Hugo Motta”, comentou a deputada estadual e pré-candidata a prefeita de Patos pelo PMDB. 

 

 

De acordo com Francisca Motta, os recursos conseguidos pela Prefeitura de Patos, junto ao Governo Federal, não podem ser utilizados em outras atividades, nem mesmo de combate à seca, porque são recursos carimbados e não podem ser investidos noutra coisa 

 

 

Durante a semana que passou, foi grande a polêmica em torno do assunto: há quem defenda que os prefeitos suspendam as festas juninas e direcionem os recursos para ações de combate e convivência com a seca, principalmente nos municípios que estão sem situação de emergência. 

 

 

Governo avisa

 

 

O próprio Governo do Estado já avisou: não vai liberar recursos para ajudar nas festividades em nenhum município da Paraíba. Os prefeitos que decidiram realizar as festas e que já contrataram as atrações defendem a necessidade de comemorar o São João. 

 

 

Segundo eles, as festas serão patrocinadas com recursos carimbados, liberados pelo Governo Federal, através do Ministério do Turismo. E não poderiam ser jamais direcionados para outras atividades. É o que acontece em cidades como Campina Grande, Patos, Monteiro e Solânea, por exemplo.

 

 

A prefeita de Bananeiras, Marta Ramalho, anunciou que, diante do agravamento da seca, resolveu reduzir pela metade os custos previstos anteriormente para as festa juninas. Em Maturéia, onde nã

 

 

As prefeituras de Ouro Velho, Paulista e São José de Espinharas também decidiram suspender as festas juninas. A Prefeitura de Massaranduba, perto de Campina Grande, decidiu realizar as a previa juninas neste final de semana, mesmo com o agravamento da seca. 

 

 

O prefeito de Massaranduba, Paulo Oliveira, disse ao Correio que não tinha razão para suspender o evento na cidade porque, quem decretou situação de emergência no município foi o Governo do Estado e não a Prefeitura. 

 

 

Segundo ele, Massaranduba não enfrenta problema com o abastecimento de água. Disse que o reservatório que abastece a população tem água suficiente para 12 anos. 

 

 

A Prefeitura de Massaranduba destinou R$ 200 mil para a realização da 12ª edição do Forró Mais 2012, conhecido como “A Maior Prévia de São João do Brasil”. Este ano, homenageou os 100 anos de Luiz Gonzaga e o cantor paraibano Jackson do Pandeiro.

 

 

“O problema referente à seca em Massaranduba é na agricultura. Com a estiagem os agricultores estão com dificuldades no plantio e colheita. Não tinha como cancelar o Forró Mais 2012 por causa da seca, pois o planejamento do evento começou, em fevereiro, com a assinatura de contratos publicitários”, disse.

 

 

Ele defende que os custos com a festa serão mínimos para a prefeitura devido às parcerias que conseguiu. “Não seria correto à quebra dos contratos e a não realização do evento. Não dava para prever que aconteceria uma estiagem nos meses de abril e maio. O Forró Mais começou a ser planejado em fevereiro”, frisou Paulo. 

 

 

 

 

Correio da Paraíba