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O IBGE sob suspeita?

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Envolto há meses em uma das suas maiores crises desde a sua criação, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vivencia uma rebelião de diretores, funcionários e do sindicato que representa a categoria (ASSIBGE), resultando em renúncias no corpo diretivo da instituição. Considerado um farol para as políticas públicas do país, o IBGE é uma instituição de excelência e alta credibilidade na produção de informações que originam os vários censos, estatísticas do mercado de trabalho, índices inflacionários, dados fundamentais para a concepção do plano estratégico de desenvolvimento brasileiro.

O início do imbróglio foi o questionamento e a suspeita levantada por esses diretores pela esdrúxula iniciativa do seu atual presidente, o economista Marcio Pochmann, em criar a Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+) sem passar pelas tradicionais discussões internas do órgão.

No fundo, o objetivo final dessa fundação seria captar recursos desse setor para custear suas atividades. Uma prática totalmente condenada pela Comissão Estatística das Nações Unidas (CSNU), órgão responsável pela orientação, coleta e divulgação de dados e estatísticas a nível mundial. De acordo com o CSNU, a regra nessa atividade, por questão de credibilidade e isenção, é não ter dinheiro da iniciativa privada, tem que ser dinheiro público.

O IBGE+, logo apelidado de IBGE paralelo, segundo os servidores rebelados da instituição, “trata-se de uma entidade de apoio de direito privado, implementada sem qualquer diálogo com os trabalhadores, formalizada em sigilo por 11 meses e anunciada dois meses após sua oficialização em cartório, uma fundação que gera dúvidas quanto à sua real finalidade e ao impacto que terá sobre a independência técnica e administrativa do instituto”.

A crise recrudesceu logo no início de janeiro deste ano, quando os diretores da área de pesquisa pediram exoneração, descontentes com a gestão Pochmann.

Indicação direta e pessoal do presidente Lula da Silva, Marcio Pochmann é uma figura de um aguçado perfil político-ideológico, que foi gerada dentro das entranhas do Partido dos Trabalhadores, acumulando ao longo da sua carreira a marca de um desagregador nato e gestor autoritário e midiático afeito a conflitos. Este foi o rastro que ele deixou quando assumiu a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), onde foi acusado de omitir dados desfavoráveis ao governo petista a quem servia na época e agora volta a atacar com carga máxima no IBGE.

A gota d’água veio numa grande manifestação realizada em frente à sede do IBGE no Rio de Janeiro na manhã desta quarta-feira, 19, onde os funcionários da instituição gritavam “fora Pochmann”, “abaixo o IBGE paralelo”. A pressão funcionou. O Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), ao qual o IBGE é subordinado, agiu rápido suspendendo temporariamente nesta mesma manhã o famigerado IBGE paralelo.

Estaria o IBGE correndo o mesmo risco que aconteceu na Argentina quando o governo Kirchner foi flagrado manipulando dados estatísticos para beneficiar sua gestão? Isso somente saberemos depois de uma profunda investigação que, com toda certeza, não acontecerá em governos petistas.

Essa é uma prova cabal de que o IBGE precisa se tornar urgentemente um órgão de Estado e não de governo para evitar gestões temerárias de cunho político-ideológico que desestabilizam a instituição, gerando uma crise de credibilidade com danos irreversíveis.