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Como era o natal no Classic  Marcos Pires

Na origem juntamo-nos eu, Fernando Catão e Neno Rabello, já então sem a visão à conta da malvada diabetes. Tivemos a ideia de criar na véspera do natal uma confraternização dos frequentadores dos almoços do restaurante Classic. Batizamos o evento de “-Aí dentro, Papai Noel” porque imaginamos uma cena onde o bom velhinho já a bordo treno perguntava a Mamãe Noel onde estava a chave da ignição e ela gritava, apontado para o saco de presentes: “- Aí dentro, Papai Noel”.

Foi um tremendo sucesso. Autonomeamo-nos diretores eternos do evento e todos os anos muita gente participava, talvez umas cem pessoas a cada festa.

Era arretado. Juntávamos muitos prêmios para sortear e a cada dez minutos parávamos tudo para fazer ligações a amigos ausentes cantando um trecho do hino natalino. Só o “Papai Noel, vê se você traz, a felicidade que me prometeu”. Era de se ver os bêbados aos berros querendo transmitir a mensagem para seus parentes numa gritaria própria de crianças mal comportadas em jardim de infância.

Numa determinada época montou-se uma operação para nos destituir da diretoria perpetua, cujos lideres do golpe eram Luciano e Aratanha. Deu errado, obvio. Tentando nos desestabilizar os golpistas disseram que a diretoria era composta por um doido, um chato e um cego. Ninguém ligou ante as inovações que trazíamos a cada ano. As ligações telefônicas nas quais cantávamos passaram a ser feitas também para as maiores autoridades da República, desde Prefeitos e Governadores a Juízes, Desembargadores e até Ministros de Tribunais Superiores. Uma vez tentamos uma ligação para o Palácio do Planalto, porém a mal educada telefonista não transferiu a linha para Sua Excelência.

Muita coisa aconteceu ali. Um exemplo simples: certa feita entraram na festa 4 parrudos homens trajando preto e ocuparam o microfone. Fez-se aquele silêncio. Eles pediram que fulano se identificasse e ante o tremendo mal estar eu não resisti e dei uma tremenda risada, porque havíamos preparado a presepada toda. A vitima disse depois que só não defecou nas calças porque ainda estava em jejum.

Eita, os sorteios! Ia esquecendo. Usávamos um recipiente cheio de papeis em branco, os quais Neno (totalmente cego) puxava e lia os nomes que bem quisesse.

Semana passada Catão me ligou; queria reviver o “- Aí dentro, Papai Noel”. Fui fazer uma lista dos convivas. Mais da metade já foi. Tem nada não, daqui a uns 40 anos juntaremos a tropa no céu e faremos a festa de novo.