É QUANDO o Sol desmaia nos braços do poente. Quando a cidade acalma sob o ninar da Lua, e eu cerro, enfim, meus olhos, em sono insistente. É quando sinto a tua presença, tua alma obscura.
Te sinto sentinela, raivoso, rente à cama, com teus pesados olhos, me vigiando, atento. Buscando em mim a falha, o meio à vingança, em tenebroso plano que a mágoa alimenta.
Por uma estranha força me ponho a teu lado. E, sem te ver, percebo a dor que há em ti. Sinto que permaneces perdido em tempo e espaço, por isso escravizado à sombra que há em mim. Por que eu não te odeio? Por que sequer te temo? Que estranho sentimento me leva a te entender? E é tanto que te entendo, que me pego querendo ouvir os teus lamentos, poder te acolher.
Por qual mistério sinto mover-me em compaixão? Por que eu não te sinto como um obsessor? por que, na tua ira, te sinto como irmão? Se és meu inimigo, por que te sinto amor? talvez os teus motivos sejam até ingênuos: O amor adoecido que fere ao transbordar; talvez, ao perseguir-me, tu queiras só um alento, quem sabe, algum consolo que possa te acalmar.
Irmão de idas Eras, algoz destes meus dias. Reage à corrente que hoje te escraviza. Perdoa humildemente os males de outras vidas; salvando a tua alma, tu salvarás a minha! Salvando a tua alma, conseguirás, sorrindo, reencontrar teus sonhos num raio de esperança. Perceberás, surpreso, no olhar, um novo brilho, que te dará acesso às almas que tu amas.
E, quando, em outra noite, o sono insistente, buscar cerrar meus olhos, que fingirão dormir, te sentirei ao lado, presente novamente! Te falarei sorrindo e sorrirás p’ra mim!
Obsesseur, de mes jours!