Conversava sempre com José Loureiro Lopes, sobre coisas da vida e da morte. Ele vivia mais a pensar sobre a vida após a morte do que sobre a hora da morte; mais na ressurreição do que no momento de deixar essa nossa condição humana. Não dou fé à afirmação de que cada um tem a sua hora, porque logicamente ninguém morre fora de alguma hora ou de algum dia. Não há nenhuma fração do tempo que não se chame de hora ou de dia. Disso também falávamos e nos indagávamos se ocorreria algum concurso divino para o acontecimento da morte. Nesse sentido ele acreditava mais do que eu.
A Providência, dizia eu, certamente não se ocupa, como nós, de medir o tempo, tampouco se torna relógio dos nossos desejos. Se assim fosse, contradizendo o acima afirmado, saberíamos, com antecipação, o dia ou a hora da nossa morte. Até num avião caindo de mais de mil metros de altura, acreditamos que vamos nos salvar… A morte, em algum momento, chega, “como o ladrão”, sem avisar o dia ou a hora. Ao escrever isso, não sou indiferente à morte, apenas, sem temor, dedico mais tempo a outras preocupações, do que ao fim da vida de carne e osso.
Faz sete dias que vi o amigo Loureiro morto. Antes de ir ao velório, cantei, como cantávamos juntos, Va Pensiero, da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, em italiano como ele gostava, e enfaticamente traduzia: “Vai, pensamento, em asas douradas. Vai, pousa sobre os vales, sobre as colinas (…)”. E agora, Loureiro, livre como o pensamento, voa aos céus, muito além da sua “pátria perdida”; e aqui nela, restando-nos, ao “som do cru lamento”. Lembro-me como ele falava ser a ressurreição, doravante ele ad infinitum vivencia. Enfim, só afirmamos, com certeza, que muitas coisas se cumprirão, depois de cumpridas. Loureiro está livre dessas cogitações… Gonçalves Dias, em Canção do Tamoio, poetiza: “Viver é lutar (…)”, pois também livre está ele dessa “luta renhida”…
A boa convivência nas tarefas circunstanciou uma sólida amizade. Depois de ter nascido em Pombal, seu grande feito foi sair da rádio de Cajazeiras para se dedicar exclusivamente à educação. Foi nessa seara em que nos encontramos: Na elaboração curricular da incipiente Universidade Autônoma, hoje, Unipê; na Diretoria do Instituto de Psicologia; Diretoria do Ensino Supletivo do Estado, quando o substituí para ele passar uma estadia nos EUA. Após criar a FAFIG (hoje UEPB), em Guarabira, como Diretor, convidei-o para aulas naquela cidade; foi assessor da Reitoria da UFPB, quando era eu, Chefe de Gabinete do Reitor José Jackson; professor do CE, quando exerci a Direção do Centro de Educação, onde, sucedendo-me, foi Coordenador do Mestrado em Educação; enfim, participante com José Jackson para que me tornasse seu confrade , na Academia Paraibana de Letras. Ao dizer a maioria das nossas atividades conjuntas, concluo que estávamos criando o Latin Forever , instituto para o cultivo, ensino, estudo, leitura e pesquisa da Língua Latina. Vivos no nosso convívio, como era ele, sobre esse conhecimento do Latim, cito mais dois exímios: Rui Dantas e Milton Marques.
Somos falíveis, quando, às vezes, errava, enquanto leitor de Confissões, Loureiro citava o filósofo Santo Agostinho… Elogiava minhas palavras, quando discernia, na vida que procede, haver mais do que o calendário que mede a cadência do movimento de um antes e um depois.
Obrigado pela leitura da minha crônica
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