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A POLÍCIA NO CABO BRANCO (RAMALHO LEITE)

 

No tempo em que o cinema ainda era “a maior diversão”, o então governador da Paraíba, Osvaldo Trigueiro de Albuquerque Melo (1947-1950) costumava frequentar as principais casas de exibição desta cidade de Nossa Senhora das Neves. Saia do Palácio, a pé, e como qualquer cidadão entrava na fila e comprava seu ingresso no Plaza, no Rex e até no Filipéia que ficava atrás da primeira residência do estado. Sua preferência era o Rex, na esquina da Duque de Caxias com Peregrino de Carvalho, vis a vis com a sede social do Esporte Clube Cabo Branco, naquele tempo, pousada obrigatória dos altos escalões da nossa sociedade e da juventude de bolso farto e poucos afazeres.
Em várias ocasiões, esses jovens sócios ociosos aproveitavam a presença do governador na fila do cinema Rex para insultá-lo com apelidos e até vaias disfarçadas. Sem qualquer repressão dos dirigentes do clube, os anarquistas foram tomando gosto e na véspera de São João daquele ano de 1948, armaram-se de rojões, bombas e outros brinquedos da época para soltá-los em direção ao Cine Rex onde se encontrava o governador Osvaldo Trigueiro. O sucesso da empreitada os animou a anunciar nova investida no dia dedicado a São Pedro.
O imortal Dorgival Terceiro Neto que fundou a cadeira do Instituto Histórico que tem Osvaldo como Patrono, conta que o governador era um homem conciliador e respeitava seus adversários. Aqueles sócios do Cabo Branco estavam abusando da tolerância do governante e a agressão ao Chefe do Executivo atingia, também, os frequentadores do cinema e incomodava toda a área circunvizinha. Era preciso um providencia urgente.
Aproximava-se a véspera de São Pedro quando o governador nomeou o capitão João Gadelha de Oliveira para o cargo de Delegado de Vigilância e Costumes, com a recomendação inicial de reprimir as manifestações hostis que vinham acontecendo na sede central do Cabo Branco. No dia aprazado, a polícia militar, em pares, foi distribuída em toda a extensão da Duque de Caxias e adjacências e, também, no prédio do clube. Os diretores reagiram e a PM saiu do clube. Mas as bombas estavam preparadas e guardadas, longe dos olhos policiais. Começou o pipocar de bombas. De muito longe, ouvia-se o bombardeio.
O chefe de polícia, o bananeirense Severino Guimaraes autorizou ao capitão João Gadelha iniciar a repressão e, sob as ordens de um tenente, a tropa deparou-se à porta do clube com o seu guardião, o sócio Newton Borges, forte, destemido e de beligerância conhecida. “Para fora mogote de cachorros”, teria gritado Newton. Começou o quebra pau. Newton tanto apanhava como dava nos soldados. Terminou preso sob a proteção do então promotor Hermes Pessoa, depois desembargador e presidente do Tribunal de Justiça.
Depois desse incidente, comunicado, inclusive, sob protestos, ao Presidente da República, o clube fechou suas portas até que os policiais fossem punidos. Ninguém foi punido e o Cabo Branco voltou a ser frequentado pelos sócios, principalmente, os aficionados do carteado e do gamão. E os desocupados de plantão.