A crença fanática produz o que a ciência chama de “delírio coletivo”. A propagação de informações, ideias e valores falsificados, promove esse tipo de comportamento em grupos de pessoas. Esse fenômeno da psicologia social ganhou proporções de grandiosidade na população brasileira nos anos recentes. A rejeição da verdade se manifestando por opiniões induzidas, na admissão de uma realidade paralela motivada por aspirações emocionais. A desinformação disseminada intencionalmente com o objetivo de causar danos potenciais à paz, aos direitos humanos e à ordem democrática.
Verifica-se uma espécie de contágio das massas, despertando paixões irracionais por determinados temas e bandeiras de cunho ideológico e político na construção de inimigos imaginários. Há uma imersão em teorias conspiratórias com captura emocional. O fanatismo induz a performances bizarras sem qualquer constrangimento, resultantes da máquina de manipulação. Percebe-se a falta de qualidade argumentativa, o que, por consequência, gera discursos de intolerância e de ódio. Uma alucinação geral que despreza fatos, declarações racionais e até dados científicos.
Esse ambiente de adoecimento psíquico coletivo de parte da população, pôs em risco a nossa democracia. Não podemos ficar desatentos, porque esse mal ainda nos ronda. Conteudos falsos e/ou enganosos continuam sendo difundidos, alimentando a negação de verdades factuais, com o propósito de sustentar esse delírio coletivo. Permanece o esforço para fazer com que as verdades que desagradam sejam consideradas inautênticas, para que o grupo do qual o fanático faz parte mantenha-se compartilhando das mesmas percepções e opiniões.
A mentira como estratégia política, revestida por mensagens conspiratórias e agressivas, conduziu parte da sociedade brasileira a um delírio coletivo. Foi adotado um método de persuasão pautado para a criação de um mundo paralelo que excita multidões. Essa epidemia mental, nos leva à conclusão de que “ninguém é mais o mesmo” quando se torna prisioneiro de um movimento coletivo caracterizado por convicções falsas firmemente defendidas. A pessoa passa a se comportar em função do contexto e do grupo social em que está inserida.
Faz-se necessário, então, que as expressões de dissonância cognitiva não marquem mais presença na vida pública de nosso país. Esse é um fenômeno que precisa ser estudado muito mais por psiquiatras e psicólogos do que por cientistas políticos. A democracia está momentaneamente salva, mas necessita ser consolidada, pondo fim à essa histeria coletiva que ainda domina boa parte da população brasileira, colocando-a sob ameaça.
Rui Leitão