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CHICO PEREIRA – O CANGACEIRO FORA DOS PADRÕES

 

Ele nasceu em 1900, na fazenda Jacú, no distrito de Nazareth (hoje município de Nazarezinho, Paraíba). Filho do João Pereira, proprietário rural com patente de coronel, pela guarda nacional e delegado de polícia na então vila de Nazareth. A grande pergunta é como alguém que nasceu numa família econômica e politicamente bem posicionada se tornou um cangaceiro.

Por ocasião da construção do açude de São Gonçalo, um embate foi estabelecido entre seu pai e João Ferreira da Rocha, liderança radicada em Sousa. Eles disputavam o mandonismo na região onde se desenvolvia o projeto de açudagem, que prometia tornar aquela região como a mais próspera do alto sertão paraibano. O saldo dessa luta resultou no assassinato de João Pereira da Silva. No dia 11 de setembro de 1922, ao final da tarde, chegaram quatro homens armados no seu comércio. Dentre eles um escapou, Zé Dias, passando a viver foragido da polícia. O padre Chico Pereira declara que seu avô morreu clamando “Vingança, Não”, que se tornou titulo do famoso livro. Chico Pereira decidiu prender o assassino do pai, mas, por ordem judicial, o criminoso foi solto. Inconformado com isso, dizem que resolveu matá-lo no canteiro de obras do açude de São Gonçalo, em outubro de 1923. Não há provas em relação a isso, no entanto.

Ao ser absolvido pela justiça, Chico Pereira resolveu ingressar no cangaço, participando do ataque à cidade de Sousa, juntamente com o bando de Lampião, na madrugada de 27 de julho de 1924, na cidade de Sousa,. Comecava ai a sua vida cangaceira que durou oito anos. 73 bandoleiros varreram as ruas da cidade por longas horas. O Juiz foi arrastado pelas principais ruas, ainda de pijama, num ato de extrema humilhação, só libertado após o pagamento de quinhentos mil réis por seus familiares. Segundo o Jornal do Recife, “Chico Pereira estava escondido, com 20 homens armados esperando o grupo de Lampião”.

O nome dele começava a ganhar destaque na imprensa da época. Era, no entanto, classificado com um “cangaceiro diferente”, por que a forma de se vestir não se ajustava à indumentária utilizada pelos liderados por Lampião. Vestia-se como um típico Cowboy do velho oeste norte-americano. Não utilizava o chapéu com abas quebradas na testa, nem o gibão que caracterizava os cangaceiros.

Após anos de atuação no cangaço, mesmo tendo processos em aberto na Paraíba, nas comarcas de Sousa, Princesa e Pombal, logo que foi preso, o presidente do Estado, João Suassuna, cuidou de recambiá-lo para o Rio Grande do Norte. O Estado era governado pelo parente de sua esposa, Juvenal Lamartine. Aos 28 anos de idade foi vítima de um suposto acidente automobilístico, no município de Currais Novos. Entretanto, presume-se que tenha sido uma queima de arquivo planejada na sede do governo do Rio Grande do Norte, executada pelo tenente Joaquim Moura.

Chico Pereira ao morrer deixou sua esposa Jardelina Nóbrega, aos 17 anos com três filhos que se tornaram, um frade, de nome Dagmar (Frei Albano), um ex-padre e filósofo, de nome Francisco Pereira Nóbrega e um engenheiro, chamado Raimundo. Em Nazarezinho, a casa em que nasceu, foi tombada pelo IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico da Paraiba, em 2022, com o objetivo de preservar a memória do cangaço na Paraíba.

Rui Leitão

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