Numa de suas últimas entrevistas para a imprensa Carlos Lacerda teria dito: “o poder embriaga como o vinho”. E isso é uma grande verdade, tem gente que não sabe viver distante do poder. Torna-se dependente dele. O poder é uma fonte hedonística de prazer. Na embriaguez do poder é despertada a arrogância desmedida. Quando alguém se inebria com o exercício do poder, ao perdê-lo sofre os incômodos de uma grande ressaca.
Desacostumado a caminhar na planície, perde a racionalidade, fica trôpego como um bêbado que não consegue se equilibrar nas próprias pernas. Desorientado porque não pode mais exercer a condição de mando e de superioridade, revela-se uma pessoa amarga, invejosa, incapaz de reconhecer que o seu tempo passou. Normalmente isso ocorre com indivíduos que trazem na personalidade a ausência da humildade e têm dificuldades em abandonar o seu estilo de prepotência. Não se dão conta de que o poder é efêmero.
O verdadeiro líder não se abate com a perda de poder. Muitas vezes ele se agiganta porque encontra a oportunidade de demonstrar seu carisma e sua capacidade de sedução. Recolhe-se ao seu novo ambiente com a grandeza de quem deixou um legado que merece admiração. Não nutre sentimentos de excelsa sabedoria. Aproveita a eventual perda de poder para reflexões e a partir delas traçar planos futuros. Busca construir uma nova jornada, sem desmerecer quem o sucedeu. Age exatamente de forma contrária, contribuindo, orientando, formando parcerias, mesmo que sem a autoridade de mandar ou decidir.
Não é fácil despir-se da fantasia da dominação. Para alguns é como se estivessem nus, ao perderem a ilusão de que continuam poderosos. É quando começa a vivenciar o mal-estar próprio de uma ressaca, provocada por eles mesmos ao se embriagarem com o poder que lhes foi conferido por algum tempo.
Rui Leitão