Há várias analogias sobre a maternidade, algumas mais fortes, outras menos fortes, contudo, todas engrandecem a mãe e a tornam sempre o valor maior familiar e social. De todas, chego a refletir que é ela que nos dá a primeira liberdade, a de sairmos do seu ventre, com vida, carne da sua carne, sangue do seu sangue, para respirarmos os ares do mundo. Ninguém pediu para nascer, gerados que fomos, na grande maioria das vezes, por amor, com a participação do pai, para fazermos parte cósmica da natureza, onde acontece exuberante liberdade, sendo assim nada mais livre do que a própria natureza, que, por sua generosidade, a ela se chama ela de “Mãe Natureza”. Contudo, essa natureza não se apresenta com tanta doçura como as nossas mães. E sinaliza quando assim não é tratada…
Seriam as mães, por essa natureza, também comparadas às árvores ou às sementes? Se a semente contém, potencialmente, a árvore e, a árvore, futuras sementes, e frutos, mãe seria também árvore e, ao mesmo tempo, natureza.
Ao ser mãe, ela não termina, em vida, a abundante tarefa de ser mãe, vive para sempre, ao ter filhas e filhos, a aprendizagem e o ensinamento de amar e de servir, como também, no crescimento das suas crianças, a arte de viver, de sonhar e de lutar. Tudo isso vivenciamos, nos tempos a partir da infância, seja no colo materno, seja nos momentos dengosos da cantiga de ninar, quando sentíamos o aconchego da mãe, logo ao lado, na noite menina findar. Eram canções suaves, cantadas por uma voz distante e pertinho, como se fossem escutadas ainda pelo meio-sono.
Agora acordados, nesse Dia das Mães, lembramos que os primeiros anos das nossas vidas foram os de cuidados maternos, que, relativamente de acordo com as atenções e o trabalho de cada uma delas, forjaram nossa estrutura psíquica, nossa existência e o que somos hoje como adultos e cidadãos, e que jovem somos nós a caminho dos idosos. Era como se o aconchego do útero se prolongasse no balançar do berço, da velha cadeira ou da rede. Os que não foram tratados assim na infância, sofrem hoje seus desequilíbrios e distúrbios, atordoando a sociedade onde vivem.
O milagre materno é obra da Providência, por isso se verifica na revelação de Jesus de Cristo que, ao se fazer Verbo na carne, mesmo na sua condição sobrenatural, não dispensou de ter uma mãe. Escolheu Maria, a mãe companheira, como aquela, humilde e serviçal, solidária à anfitriã, na falta de vinho, na festa de núpcias, em Canaã (João, 2, 1-11), rogando ao Filho mais vinho à festa…
Depois de tudo, sempre repito que a mãe começa a se conscientizar do que admoesta Khalil Gibran, em O Profeta: “Vossos filhos não são os vossos filhos(…) E embora vivam convosco, não vos pertencem (…)”. E, finalmente, traz-nos a mais perfeita das analogias, compara a mãe a um arco, que, para cumprir sua finalidade, atira, ao infinito longe de si, seus filhos e filhas, que são flechas, para realizarem, desprendidos da mãe, o sentido das suas vidas, das suas existências. Mãe é assim, resignadamente, consente que filhos e filhas saiam de casa, pelos caminhos da incerteza, para morarem na mansão do amanhã…