Primeira parte.
Algumas pessoas acreditam que a derrocada econômica dos meus pais se deu em consequência da grana que eu e meus irmãos gastávamos. Coisa de quem não tem dimensão do que é muito dinheiro. Sempre rimos disso. É que a grana era tanta que teríamos de viver muitas vidas estourando aquele dinheiro para conseguir gastar apenas dez por cento do que Adrião e Creusa Pires ganharam.
Peço sua licença para dar um rasante rápido na origem do casal e em seguida observar a ascensão e queda dos Pires. Coisa de poucas linhas.
Meu avô paterno Manoel Pires era comerciante aqui em João Pessoa. Já meu avô materno Manoel dos Anjos era poeta, fundou a Academia Paraibana de Poesia.
Meu pai formara-se com distinção na primeira turma de Engenharia Química em Recife. Veio a João Pessoa apenas comunicar ao meu avô que havia sido convidado para um emprego fantástico, onde ganharia muito bem lá em Pernambuco. Naquele momento aconteceram duas coisas; meu avô comunicou ao meu pai que diante desse fato iria fechar a loja porque contava com o filho para tocar o negócio e… meu pai conheceu minha mãe que trabalhava como caixa na loja e apaixonou-se. Ele ficou.
II
Adrião e Creusa Pires foram os comerciantes mais ricos da Paraíba por muito tempo, a ponto de construírem uma mansão na descida da avenida Epitácio Pessoa (em frente ao clube Cabo Branco) onde hospedaram dois Presidentes da República e a totalidade das pessoas famosas que aqui chegaram desde o ano de 1966 até a inauguração do hotel Tambaú. Todos os fins de semana eram vistos por lá cantores, artistas e uma variedade de gente que enchia as páginas sociais da grande imprensa brasileira. Pudera, João Pessoa não possuía hotel e nossa casa tinha “apenas” 9 suítes.
Além da mansão eles possuíam diversos outros imóveis, porém o mais importante era o capital que dispunham para tocar seu negócio. O grande salto foi descobrir que poderiam ser distribuidores exclusivos das mais procuradas mercadorias se comprassem aos fabricantes toda a estimativa de venda anual de cada indústria para o Estado da Paraíba. Assim faziam. No começo de cada fevereiro iam a São Paulo e pagavam antecipadamente os produtos que iriam solicitando ao longo de cada ano. Santa Marina (Colorex e Pirex), Microlit (pilhas Ray- o-vac), Estrela (brinquedos) e mais uma centena de itens que só poderiam ser comprados por qualquer comerciante aqui na Paraíba se fosse no armazém dos nossos pais, que tanto vendia em grosso como no varejo. Era comum recebermos das fabricas uma série de presentes, porém nada que se comparasse aos brinquedos Estrela. O autorama novo que só iria para as lojas no dia das crianças já estava em nossa casa desde abril. Chegamos a ter um autorama enorme, com oito pistas, que se estendia por muitos metros.
(continua na próxima semana)