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VITÓRIA DA DEMOCRACIA NA UFPB (Rui Leitão)

 

A consagradora votação obtida pela chapa “UFPB – Inovação com Inclusão”, liderada pelas professoras Terezinha Domiciano e Mônica Nóbrega, representou, acima de tudo, uma significativa vitória da democracia. Foram quase setenta por cento de votos obtidos pela chapa vencedora, o que demonstra bem o quanto a comunidade universitária pública estava descontente com a forma de administrar empreendida pelo Reitor Valdiney Gouveia, nomeado pelo ex-presidente Bolsonaro, mesmo tendo se colocado em último lugar na lista tríplice apresentada. Já naquela oportunidade, a professora Terezinha liderava a opção dos que participaram da última eleição.

O passo seguinte é a confirmação do resultado das urnas pelos conselhos universitários da instituição, nos proximos dias, para a definição da lista tríplice a ser apresentada ao presidente Lula. Diferentemente do seu antecessor ele sempre adotou a decisão de nomear o mais votado, em respeito à vontade majoritária dos que integram a representatividade docente, discente e técnico-adminsitrativa dessas instituições públicas. Aliás, esse é o comportamento que se espera de alguém que prima pela observância dos princípios que regem uma democracia. Ao referendar o resultado obtido nas urnas, o presidente da República garante a autonomia das Universidades Federais. Não foi o que aconteceu no passado recente.

As universidades são instituições seculares voltadas para o ensino, a pesquisa e a extensão, logo não podem ser tratadas sob o prisma autoritário regido por posições ideológicas, ficando livres, portanto, das amarras daqueles que insistem em mantê-las sobre seu domínio. Quando assim ocorre, perdem a sua condição de entidades de ensino autônomas em relação ao Estado, deixando de cumprir o protagonismo social e político que lhes cabe.

O grito proclamado nas urnas antes de ontem na UFPB expressa que a sociedade brasileira está disposta a dobrar a aposta na democracia, não permitindo que aventureiros oportunistas a ponham em risco. É um brado de resistência contra os ataques sistemáticos à ciência, à pesquisa, perpetrados por ações danosas dos que deveriam zelar pelo bem público. O resultado da eleição evidencia com força a disposição de proteger as universidades diante das inverdades e cortes orçamentários que vêm forjando um ambiente de intolerância como anteparo da incivilidade. É, pois, imperativa a união de forças para debelar potenciais ameaças à nossa jovem democracia.

Terezinha Domiciano e Mônica Nóbrega se posicionaram à frente de um movimento que faz despertar a consciência de que as universidades públicas são espaços naturais da lógica e do exercício pleno da democracia, sem jamais se descuidar da promoção de um ensino de qualidade e um debate incessante de temas de relevância para a sociedade. Elas lideraram a reação contra as ofensivas reacionárias de governos autoritários contra as universidades públicas.

Vencido o pleito eleitoral e confirmada, como se espera, a nomeação das vitoriosas, se inicia um tempo de reconstrução e de luta por valores emancipatórios que contribuam para a redução das desigualdades e a ampliação de direitos, enfrentando sem medo às mais diversas formas de totalitarismo. E que a UFPB volte a ser, como historicamente sempre foi, um ambiente de reflexão e lugar de fazer política no estrito senso da palavra. Que se recomponha o conceito de uma gestão sem ser abalada por influências meramente burocráticas ou partidárias no ambiente acadêmico.

Rui Leitão