Nasci e me criei no Miramar, tido por muitos como o menor bairro de João Pessoa. Mas como é rico de histórias e tradições o meu bairro.
Todos os anos montavam na atual praça das muriçocas o parque Estrela do Norte. Hoje seria considerado um mambembão mas à época era um alumbramento. Começo pelas canoas que ocupávamos em duplas, um em frente ao outro, puxando cordas que faziam a tal embarcação desenvolver um movimento pendular até o mais alto possível. Terminado o tempo pelo qual pagávamos, um garotinho colocava um pneu no chão de tal forma que, quando o fundo da canoa encostava nele, freava violentamente. Observando com os olhos de hoje verifico que não havia cinto de segurança que protegesse os passageiros nem limite para as evoluções da canoa, onde vez por outra ficávamos de cabeça para baixo sem a mínima proteção. E quanto ao garotinho, que corria um risco constante de ser esmagado pela volta da canoa enquanto colocava o “freio”?
Outros brinquedos eram mais suaves, como o vira-latas. Tratava-se de uma prateleira onde arrumavam latas de leite Ninho em forma de pirâmide; linhas de quatro, três, duas e uma latas superpostas. Numa distância de 5 metros lançávamos 3 bolas de meia para derrubar aquela formação. Em vão; as latas não caiam. Só Shell, um parrudo desembeiçador de pneus do posto de gasolina vez por outra conseguia a façanha. É que as bolas de meia eram muito leves e as latas cheias de areia muito pesadas. Era “gopi”!
Porém o que mais me fascinava no parque Estrela do Norte era a cabine de som. Uma casinha de madeira com 4 autofalantes pendurados lá em cima. O locutor manejava uma radiola acoplada a um amplificador e num microfone de ferro coberto por uma flanela ele deitava falação. Era baixinho e feio, porém tinha uma voz incrível e era extremamente poético. Lembro bem de uma das suas frases preferidas; “- Maria que trabalha na casa de dona Carmélia, como as flores abrem suas pétalas para receberem o orvalho da manhã, abra seu coração para receber esta bela pagina musical que o motorista do carro 35 oferece”. E tome-lhe bolero. Esse carro 35 aí referia-se à numeração dos ônibus e marinetes da época. Porém do que eu gostava mesmo eram os amores proibidos. “- Atenção Lurdes da manicure, escute essa maviosa melodia que lhe dedica um alguém que muito lhe ama”. Certa vez ele se superou: “-Atenção um alguém que mora na rua Carlos de Barros; um outro alguém que trabalha no comercio dedica a você a musica que vai agora com muito amor”.
Que Disney que nada… .