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TEMPO DE LEMBRAR WALDIR (RAMALHO LEITE)

 

Nascido no dia de São Sebastião, eu costumava brincar com ele: se fosse filho dos moradores do Engenho Avenca, seu nome seria Bastião. Mas WaldIr Lira dos Santos Lima nasceu na Casa Grande e seu destino seria a altura. Sua vida pública começou nos anos 1960 com Pedro Gondim lhe abrindo as portas do Palácio e o introduzindo na política. Daí para frente, ele passou a abrir as portas do poder para os outros e conseguiu se manter por muitos anos na cúpula governamental. Aclamado com respeito, de Pedro Gondim a Ronaldo Cunha Lima, sua presença foi constante e indispensável nos pleitos eleitorais travados na Paraíba, fossem eles diretos ou indiretos.
Página inesquecível da história da Paraíba teve em WaldIr um dos principais protagonistas. Foi o apoio de Waldir como Presidente da ARENA que viabilizou a disputa de Antonio Mariz à convenção daquele partido, contra Tarcisio Burity, enfrentando a ira dos quartéis e o poderio econômico do Grupo da Várzea que defendiam o regime de exceção mascarado por uma Constituição fardada. WaldIr, além ficar ao lado de Mariz, pôs também sua cabeça a prêmio aceitando disputar a vaga de vice-governador. Sua fama de conspirador vinha, porém, de longe, desde os tempos em que um nascente Partido Democrata Cristão, invenção gondinista, servia para acirrar os ânimos dos udeno-agripinistas.
Nascido em Serraria, só teve direito de disputar os votos de sua terra quando o filho de Antonio Carvalho, amigo de Pedro Gondim, Antonio de Pádua, despediu-se das várias tentativas de se eleger deputado estadual. Naquele tempo, as amizades eram respeitadas. Um WaldIr correto e disciplinado foi completar sua votação na região de Umbuzeiro onde mantinha laços familiares. Presidente da Assembleia Legislativa em duas oportunidades realizou o primeiro concurso publico para preenchimento de cargos, naquela casa que dirigiu com raro brilho e acatamento geral.
Rebelde contra as injustiças, bravo no combate aos desatinos dos áulicos do poder, era severo na crítica e contundente nos protestos. No governo de Ernani Satyro sua oposição quase isolada compôs com Edvaldo Motta e Eilzo Matos um trio apelidado pela imprensa de Tupamaros, numa alusão aos rebeldes Uruguaios. Esse grupo, para tirar o sono do governador, chegou a mirar no que ele possuía de mais sagrado: sua produção literária.O grupo anunciou que iria queimar em praça publica, o livro “O Quadro Negro” de autoria do imortal da APL que ocupava o Palácio. Egídio Madruga que presidia a Assembléia, assistiu certa feita WaldIr rasgar o Regimento Interno em sinal de protesto: “já que Vossa Excelência não o cumpre”!
Na eleição de 1978 fomos delegados da Paraíba ao Colégio Eleitoral que elegeu o general João Figueiredo, presidente da República. WaldIr, derrotado na convenção da Arena para vice-governador, candidatou-se a deputado federal. Fizemos uma dobradinha em todo o brejo: ele federal e eu estadual. Àquela altura, era tempo de Burity, e a razão nos aconselhava: cada um cuide de si… Os reflexos da nossa rebeldia assustaram os eleitores da Arena. Os eleitores do Presidente deram dois bons suplentes. Ficamos sem mandato.
Quando WaldIr pensava em comemorar seus 81 anos, em um dia 20 de janeiro, eis que a vida se retira e deixa apenas a saudade e a história de um político digno, competente e probo. A pequenina Paraíba ficou menor com a sua ausência.