Meus poucos leitores já devem ter notado minha predileção por assuntos que envolvem a história pátria. Tenho saído do dia a dia, e assim, evito desagradar aos vivos, pois os mortos não reclamam.Os personagens que por aqui têm passado já se foram de há muito e, seus feitos, bons ou maus, fazem parte da história. Comecei com o Barão de Araruna e enveredei pelas espadas dos coronéis, quase todos, donos da terra e dos seus ocupantes, fossem servís ou libertos. Mas a Paraíba, terra de grandes, que exportou inúmeros filhos seus para dirigir outras terras, teve também a sua pequena nobreza, situada, é bem verdade, na base da escala nobiliárquica. A nossa safra de nobres não passou do baronato e de um visconde, embora devessem sonhar com a mesma ascensão que teve o marechal Luiz Alves de Lima e Silva, que começou barão, ascendeu a visconde, conde, e finalmente Duque de Caxias.
Já vimos que o Barão de Araruna – Estevam José da Rocha, foi político eminentemente municipal, prendendo-se ao seu burgo e não aceitando ascender a qualquer posição a nível estadual.Desfrutou pouco o baronato: ungido em 1871, faleceu em 1874. Mais famoso e tendo ocupado os mandatos de deputado geral e senador do Império, Flávio Clementino da Silva Freire, o Barão de Mamanguape a partir de 1860, governou a Província da Paraíba do Norte em várias oportunidades entre 1853 a 1877. Era também comendador da Ordem da Rosa e faleceu em agosto de 1900.
Fazendeiro e político, falecido em Mamanguape aos 75 anos e nascido na capital desta província em 1798, chegou à sua presidência. Refiro-me a José Teixeira de Vasconcelos, o Barão de Maraú, que, além de comendador da Imperial Ordem da Rosa ocupou o comando superior da Guarda Nacional. Foi casado com Francisca Monteiro da Franca e não deixou filhos.
Em prestígio perante o Império ninguém superou Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, o primeiro e único Barão de Abiaí. Formado pela Faculdade de Direito de Olinda, foi deputado provincial em várias legislaturas. Notabilizou-se, porém, como presidente das províncias do Rio Grande do Norte, Alagoas e Maranhão. Recusou do gabinete Rio Branco a oferta de dirigir o Ceará e o Pará. O gabinete Cotegibe lhe ofereceu a Bahia, igualmente recusada. Sua desistência em governar os baianos não impediu que presidisse sua Paraíba do Norte em duas oportunidades entre 1869 e 1876. Foi Inspetor da Alfândega na Paraíba, no Amazonas e no Maranhão e depois de todos esses encargos monárquicos, por decreto imperial de 18 de janeiro de 1882, recebeu o titulo de Barão de Abiaí, numa referência à localidade do mesmo nome, hoje município de Pitimbú. Comendador da Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo, foi casado com Adelina Bezerra Cavalcanti de Albuquerque. Falecida esta, sua irmã Leonarda Mirandolina Bezerra Cavalcanti, casaria em 1878 com o futuro barão. A segunda esposa seria a baronesa consorte de Abiaí.
Outro paraibano, este de Pilar, Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, teve promoção maior na nobreza, recebendo o titulo de Visconde de Cavalcanti. Advogado da escola do Recife, promotor e ministro do Império em várias pastas.Foi responsável pela construção da estrada de ferro Conde D´Eu entre Cabedelo e Alagoa Grande. Não presidiu a Paraíba, mas governou o Piauí, o Ceará e Pernambuco entre 1859 a 1871. A partir de então, foi senador do Império até 1889.Alcançou os primeiros anos da Republica. Seu nome patrocina a Cadeira 13 da Academia Paraibana de Letras. Seu parente e conterrâneo Damião Cavalcanti preferiu a Cadeira 33.
Alguns topônimos de municípios paraibanos serviram para nomear o baronato brasileiro. Assim tivemos o Barão da Alhandra, que era pernambucano; o Barão de Itapororoca, baiano;Barão de Pilar, carioca falecido em Petrópolis; Barão de Itaporanga, nascido em Sergipe; Barão de Lucena, pernambucano, e até um Barão da Paraíba, vinculado à Paraíba do Sul. E para não dizer que não tenho parente na nobreza, encontrei um Barão do Ramalho, assim denominado Antonio Tomé da Fonseca Paim da Câmara,político de Açores. Esse título passou para o seu neto também chamado Antonio. Estou pensando em regatar essa patente para ilustrar o meu sangue que não tem um pingo azul. Faltar-me-ía, apenas, os 750 contos de réis do custo da patente.
Sobre o citado Barão de Lucena, consta que Solon de Lucena era seu parente. Deixo a duvida para o nobre Iveraldo Lucena, também filho de um Henrique e tio de outro do mesmo nome. O Barão de Lucena, chamava-se Henrique Pereira de Lucena e governou Pernambuco com grande brilho e um acervo de obras considerável. Como deputado geral e presidente da Câmara fez transitar com urgência o projeto da abolição da escravatura conquistando a simpatia da Princesa Isabel que lhe concederia o baronato. Foi ainda presidente da Bahia, do Rio Grande do Norte e do Rio Grande do Sul. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, o Barão de Lucena foi ministro de Deodoro da Fonseca, de quem era amigo. Derrubado Deodoro, caiu também em desgraça quando pretendia exercer o cargo de Ministro do Tribunal Militar para o qual fora nomeado. Floriano o aposentou. Faleceu no Rio de Janeiro em 1913.(Consultei obras de Wilson Seixas e Apolônio Nóbrega)