Assinando apenas como Joaquim Ignácio, um jornalista potiguar incursionou pela Parahyba no ano de 1924 e transformou em livro a notícia do que ele viu nas cidades por onde passou. Primeiro fui em busca do turista escrevinhador. Só podia ser uma figura importante do vizinho estado, uma vez que transcreve conversas com José Américo, a quem chama de José Almeida, Solon de Lucena e João Suassuna, para lembrar apenas três ilustres paraibanos partícipes da nossa história. Descobri tratar-se de Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, nascido em Martins (RN) nos idos de 1888. Viveu até 09 de junho de 1948. Foi deputado estadual de 1913 até 1917.Vice-governador do estado, tendo assumido a chefia do executivo entre 28 e 30, em virtude do afastamento do titular, Juvenal Lamartine. Em 1935 foi eleito senador e perdeu o mandato com o golpe do Estado Novo. Prefeito de Natal e de sua cidade de origem, ainda exerceu as funções de juiz, promotor e desembargador. Formado em direito pela faculdade do Recife, em 1908, foi colega de turma de José Américo de Almeida.
Era 10 de setembro quando o ilustre visitante desembarcou de um comboio da Great Western na nossa estação ferroviária, ainda instalada em prédio provisório. Sua primeira visão da nossa capital, cingiu-se aos arredores da gare: “tráfego de caminhões e carros arrastados por muares”. A poucos passos, a Bacia do Sanhauá, onde, “placitamente,” duas grandes dragas “descansavam do intenso trabalho que vinham de realizar aprofundando a vasa lamacenta do rio… no meio da corrente, um grande trapiche: vestígio monumental da construção de um porto que se tentou fazer ali”. Das adjacências da Alfandega até a ponte sobre o Sanhauá, “uma grande quantidade de materiais dava sinais da empreitada que se prometia realizar”. Sabe-se hoje, que a construção desse porto, sonho de Solon e obra de Epitácio, pereceu diante da “desonestidade de uma época”, como cravou Apolônio Nobrega.
Ao dirigir-se ao Hotel Globo, o novo hóspede diz que caminhou ao lado de um grande deposito de manilhas de barro vidrado a serem utilizados nos esgotos da capital. Estava em andamento, o projeto de Saturnino de Brito mandado elaborar por Solon de Lucena para o esgotamento sanitário da capital, entregue pelo seu sucessor, João Suassuna. Impressionou o turista rio-grandense a majestosidade do prédio da Associação Comercial, inaugurado em julho de 1919, por Epitácio Pessoa, quando de regresso do exterior, “já investido do mandato de chefe da Nação”. Segundo informações de Isidro Gomes, seu presidente, o prédio da Associação teria sido construído através de subscrição particular e custou 136 contos de reis, incluídos 20 contos doados pelo Estado. Cunha & Di Lascio foram os engenheiros que edificaram o “palacete”, mediante concorrência pública. E conclui o escritor: “Da frente deste palacete parte, atualmente a primeira secção da linha de bondes da Capital, compreendendo o trajeto da rua Maciel Pinheiro ao Ponto de 100 reis, no limiar da Cidade Alta. Neste local bifurca-se a linha ao norte e ao sul para os dois arrabaldes principais da cidade- Tambaú e Trincheiras”.
A descrição é detalhada e os pormenores se avolumam. Registro por hoje, o elogio ao “operoso prefeito” (Walfredo Guedes Pereira, um bananeirense nomeado por outro – Solon de Lucena) “que no momento está construindo a Praça Vidal de Negreiros em cujo centro ergue-se um relógio. Destacam-se ali o magnifico palacete do dr.Guilherme da Silveira e um prédio destinado à espera dos bondes, dotado de aparelhos sanitários públicos.”