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Dia e Anos da Criança (Damião Ramos Cavalcanti)

 

             

           Desde meus tempos de Grupo Escolar, em Pilar, se era em casa e com menino no meio, como hoje, cabia aos pais esse trabalho, que se chamava “dever de casa”, o que, atualmente, tem o nome de “tarefa escolar”. Então, esse serviço familiar não acontecia a contento, em razão da relatividade ou do grau de instrução dos pais que, também, depois das suas cansativas horas de trabalho, fora de casa ou no campo, tomavam banho e, na boquinha da noite, meninos e meninas, já bocejando, tentavam complementar o ensino, que os filhos teriam recebido na escola, num esforço extremo e acima do que sabiam sobre o assunto.
        Experimentei essa realidade, quando meu pai, que já tinha feito o primário e até o exame de admissão, sabia muito bem, naquele nível, português e matemática. Puxavões de orelha e outras inabilidades pedagógicas havia e subsistem, ainda hoje, bem visíveis e ditas. Veem-se os vídeos em que os pais, com muita coragem, reclamam ser impossível ensinar e, ao mesmo tempo, dar conta de crianças, explicando-lhes o bendito “dever de casa”: a uma, geometria; à outra, português e ao terceiro, complicados cálculos de matemática e por cima saber inglês… Reclamavam, com razão, por não terem recebido a formação para substituir, nem parcialmente, os professores da escola, mesmo justificando esses limites, apesar da maior das suas boas vontades a serviço dos filhos. Contudo, as escolas sabem disso, mas sem o “tempo integral”, passam tal tarefa ou o “dever de casa” aos pais.
           Eles e elas têm razão, pois dar aula à criança exige do docente conhecimento amplo, sobre filosofia, psicologia e sociologia pedagógicas mais do que o trato com crescidos estudantes universitários. Isso foi descoberto por países de excelente educação pública. Há muito, inventaram a “escola de tempo integral”, corrigindo, de imediato, a necessidade extrema do pai “despreparado para isso”, assumir, domesticamente, o lugar do professor. E atualmente, depois do frisson quotidiano, enfrentando problemas e trânsito, os pais chegam em casa um bagaço.  Na França, presenciei Escola de Tempo Integral, que recebia minhas três crianças e centenas delas, dando-lhes, pela manhã, aulas e ensino; merenda e almoço, educando culturalmente como se realiza uma refeição, com até o hábito da sesta. E, à tarde, reforçavam-se as atividades, aprendidas pela manhã. Enfim, em casa e na família, existe pouco do tempo, que resta para as crianças, irmãos e pais conviverem entre si, interagirem e se educarem familiarmente. A educação de casa é a familiar, com brincadeiras, troca de carinhos e respeito aos valores, à mãe e ao pai; no outro dia, na escola, continua-se o ensino de conteúdo formal e programado, sociabilidade e solidariedade entre os colegas. Dada essa separação de funções, entre a casa e a escola, acabar-se-ia o tradicional “dever de casa” ou obrigações escolares aos pais, aperfeiçoando-se o convívio da família. Ainda morre mãe ou pai frustrados, por não cumprirem dedicação paternal e maternal, com amor, junto aos filhos. Isso também acontece, quando supervalorizam o trabalho em detrimento da família, e à noite, no lazer, vendo TV e usando celular.  
          Na falta de escola, não se dá à criança outro presente…  E a solução, para a educação, é cumprir o prometido prolongamento da rede de escolas de tempo integral. A boa nova que se poderia ouvir é a de que, em termos de educação, pretender-se-ia universalizar o necessário ao processo ensino-aprendizagem: a Escola de Tempo Integral. Se isso acontecer, partiremos a uma nova era de eficácia educacional, sim, mais do que transformadora, exitosa. Caminhar-se-ia, desse modo, para um ensino de excelência, nos anos que advêm e que advirão. À criança, em casa ou na escola, tal presente é o melhor para o Dia da Criança e para anos e anos desses jovens e futuros adultos…  

Damião Ramos Cavalcanti

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