Nas asas da Panair Marcos Pires
Meus pais me levaram a São Paulo quando eu tinha 4 anos. Foi a primeira vez que viajei de avião e provavelmente deve ter sido a bordo da Panair. Não lembro de quase nada, afora um terno branco com o qual me vestiram para aquela viagem. Lembro porque há uma foto registrando o momento.
Aqui estão os elementos básicos do que era uma tremenda aventura. As pessoas costumavam preparar-se com muita antecedência para embarcar em aviões. Roupas eram compradas para a ocasião. Havia o registro fotográfico do embarque e do posterior desembarque. Tanto na ida como na volta o aeroporto enchia-se de parentes que iam dar o adeus da partida e o abraço da chegada. Na minha família era costume irmos todos a um almoço ou jantar especial, para que pudéssemos contar as histórias da viagem. E quando era viagem internacional aumentava a frequência dos convivas. Coisas triviais tornavam-se oohhhs! Ter andado em ônibus de dois andares em Londres ou de metrô em Nova Iorque exigiam muitas explicações aos parentes que não tinham condições de viajar. Contar como era o serviço de bordo era outro momento que atraia toda a atenção. Copos de cristal e talheres de prata, comidas super diferentes, sofisticadas, bebidas de todo tipo, sem limitação, inclusive as alcóolicas. E as sobremesas? Ao longo dos voos era muito comum construir novas amizades e sempre, sempre o sonho de namorar uma daquelas belíssimas aeromoças.
Hoje em dia não há mais a mágica. Acabou-se e creio que definitivamente. Até pouco tempo era possível desfrutar uma refeição ligeira. Ultimamente haviam criado um cardápio muito do chinfrim para vender aos passageiros, onde o prato quente era sempre um insipido estrogonofe de frango ou sanduiches e para beber cervejas não muito geladas. Mas o que era ruim foi ficando pior porque a quantidade de alimento e bebidas embarcados foi minguando e mesmo sendo vendidos a oferta não passava das 3 primeiras filas de poltronas. Agora fechou o firo. Um copo de refrigerante e duas bolachas (as opções são fantásticas; doces ou salgadas?), o que obriga alguns passageiros e trazerem seu farnel. Parece uma alegre excursão estudantil em ônibus fretado, onde cada qual levava seu lanche. Semana passada voltávamos do Rio quando uma senhora de nariz empinado reclamou do odor de umas coxinhas de galinha que um rapaz retirou de sua mochila e começou a comer.
Se fosse uma lata de “frito piauiense” destampada a madama iria ver o que era bom pra tosse.