Após o dia 7, correm vários riachos
Depois do dia 7 de setembro, haverá, ainda, várias versões de como aconteceu o Grito do Ipiranga, cada uma alterando a mais dominante, que é a do Riacho do Ipiranga. Riacho vale, aqui, dizer cenário daquela circunstância. Umas tratam da independência, outras de liberdade, como canta o nosso Hino, ao abrangente “Sol da Liberdade”, e também o da Independência: “Já raiou a liberdade / No horizonte do Brasil”. Independência é muito mais fácil do que liberdade, parece ser um subconjunto conceitual da ampla liberdade, que se estende do cidadão, e democraticamente à coletividade. Independência se define, de bom tamanho, para o grito político do dia sete, afirmando-se independente do vínculo com Portugal. Talvez em baixa voz, mas declarando um assunto de peso para um novo país, saindo do status de colônia portuguesa, e assim em tanto teor, torna-se um portentoso grito. Simplesmente à beira de um riacho, margeado de árvores, sobre um pequeno elevado de terra, para destacar a personagem principal do soberano Dom Pedro, montado num qualquer bucéfalo, fazia-se o suficiente. Desembainhou a espada, elevou-a ao alto, e em poucas palavras, ameaçou: “Independência ou morte!”. Pronto, elementos para que o paraibano de Areia, Pedro Américo, levasse a cena às tintas coloridas, hoje a tela (7,60m x 4,51), atualmente exposta, em São Paulo, no Salão Nobre do Museu Paulista.
Naquele momento não aconteceu morte, bem melhor: a declaração de independência.
Contudo, anterior e posteriormente àquele fato, houve, sim, mortes para se conquistar e descimbrar maior independência. O historiador José Octávio de Arruda Melo desfaz essas dúvidas: “A independência não se fez apenas com um grito, constituiu-se num processo histórico, que se desenrolou, antes e depois de sete de setembro, e com muitas mortes (…)”. Em suas conferências, ele, seguidor intransigente do mestre José Honório Rodrigues, descreve a ocorrência de quase 20 mil mortes, no Rio, na Bahia, em Pernambuco e também na Paraíba, por exemplo. Sem esquecer ele de destacar José Bonifácio e Padre Belchior, como os grandes articuladores desse processo de mudança e renovação política.
É preciso discernir a real história das chacotas e galhofas, que contam em torno da independência, quando Dom Pedro retirou do seu peito o laço lusitano e ordenou que os que o acompanhavam tomassem a mesma atitude, jogando fora esse símbolo. Foi um grito motivado por coragem do Imperador brasileiro, ao afirmar que estava se afastando da sua casa, da sua família e politicamente, separando as coroas, a sua da portuguesa; elas não mais fariam parte do mesmo ouro… Ouro, sobretudo porque ser independente significa ter razões e ações econômicas para isso. O filho ou a filha só deve dizer que é independente, quando demonstrar que não precisa mais financeiramente dos pais. Analogamente, independência só subsiste, se houver independência econômica.
Para sermos precisos sobre a independência, desde aquela situação até os dias atuais, haja palavras, explicações, especialmente sobre em qual situação econômica ela historicamente ocorreu e quais consequências dela se seguiram. Nesses aspectos, mutatis mutandis, somos nós um país, política e economicamente, independente? Também sobre isso, correm vários riachos… Atentos para discutirmos sobre qual independência comemoramos, de qual aspecto soa o grito. No melhor sentido, ad futurum, também ecoará o que a escola ensinar às crianças e à juventude tais histórias de civismo, cujas lições permanecem marcantes.
Não se oportunizem desdém ou desencontrados relatos, ao 7 de setembro. Aprendi, na escola, bons sentimentos sobre isso, em Itabaiana, no CNSC, com as aulas sobre tal fato histórico e ensaiando suas comemorações, sob o comando do Cabo Totô, e a harmonia da banda e do ritual do desfile, sob a regência do memorável folclorista Tenente Lucena, pai do nosso intelectual e escritor Palmari. No final das comemorações, aguardávamos as do próximo ano. Como as substanciosas cartas de Dona Leopoldina, sugiramos como realizar e viver a nossa independência…
Gratificado pela leitura da minha crônica
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