A japonesa quebrou Marcos Pires
Quase caí quando o pé direito das minhas legitimas havaianas rebentou. O primeiro grande problema foi identificar o nome correto da “peça” avariada. Riata ou arriata? Nenhuma das duas opções. O nome certo é correia, me disse o vendedor do armarinho localizado no mercado da Torre. Porém quando ele viu o estado das minhas sandálias deu um muxoxo: “-Doutor, não é por nada não, mas é melhor comprar um par novo. Do jeito que os solados estão, se o senhor pisar numa moeda vai dar pra adivinhar se é cara ou coroa”. Eu já havia pensado nisso depois de desistir de dar um jeitinho na correia das duas maneiras usuais; queimando a ponta da peça e tentando remendar ou utilizando um prego trespassado. Nenhuma das duas resultara.
Pausa para uma explicação necessária. Quem não me conhece vai pensar que é miserabilidade, porém na verdade trata-se de uma nova derivação da minha filosofia de vida, o nadismo. Ou seja, não fazer absolutamente nada. Só que às vezes tenho que descansar de tanto que nada faço e procuro uma atividade que me cause o mínimo de preocupação. Neste primeiro semestre escolhi consertar as sandálias. Aliás, outra prova de que não se trata de miserabilidade é que tenho um outro par de sandálias, porém essas só as uso em ocasiões especiais, são sandálias sociais, que trouxe de um hotel bacana onde hospedei-me certa vez.
Para os que pensam ser assunto de menor monta, quero dizer que juntamente com a caneta BIC as havaianas jamais mudaram desde sua criação; no máximo uma cor nova. E olha que também como a BIC já lá se vão mas de 60 anos desde sua criação. Só uma diferença; enquanto a caneta é uma invenção francesa, as havaianas são coisa nossa. Inspiradas nas Zoris japonesas (Oh! Que revelação! Daí chamarmos as havaianas de japonesas) cujos solados são feitos com palha de arroz, as havaianas imitam pequenos grãos de arroz dos seus solados. Querem um motivo de orgulho bem brasileiro? Foram expostas no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa).
E engana-se quem pensa que as havaianas só servem para calçar. Pode até ser assim no resto do mundo, porém aqui no Brasil elas servem de drone quando uma mãe quer acertar o filho que correu da reprimenda, marcam maravilhosamente as traves numa pelada bem jogada, daquelas que arrancam o xaboque dos dedos e identificam os filhos amorosos, que ao verem um pé de sandália emborcado correm para desvira-lo. Vocês sabem porque, né?
Não é bombril mas tem muitas utilidades.