A bela família de Frutuoso em visita as Itacoatiaras de Ingá
A Paraíba possui um dos monumentos rupestres mais intrigantes do País. São as Itacoatiaras do Ingá, um paredão rochoso de quase 20 metros de comprimento por três de altura repleto de figuras identificáveis (a exemplo de lagartos e espigas) e muitas outras abstratas, sem aparente significado.
Algumas assemelham-se a cápsulas espaciais e a humanoides, o que, ao longo de décadas, tem despertado o interesse de ufólogos. “Eram os deuses astronautas?”, o livro que o sueco Erich von Däninken escreveu com este título, conhecido no mundo inteiro, faz referência a essa pedra,
O termo “Itacoatiara”, originário do tupi, é traduzido como “pedra pintada”. Mas não é pintura o que exibe a pedra localizada em Ingá, município situado a 70 quilômetros de João Pessoa. São, ao invés disso, inscrições insculpidas em baixo relevo, há milhares de anos, na superfície de um gnaisse duríssimo.
O saudoso pesquisador paraibano Balduíno Lélis – que já fez reproduções das Itacoatiaras em painéis de madeira para organismos públicos da Paraíba – garantia que aquilo tem linguagem matemática. “As figuras ocorrem em múltiplos de três”, assegurava a quem o interpelasse sobre o assunto.
No meio acadêmico, há quem veja na Pedra do Ingá o fruto da ação de tribos locais, em eras pré-colombianas. Ao questionamento de que os índios não dispunham de ferramentas capazes de perfurar o gnaisse, um desses estudiosos, a professora Ruth Almeida, já respondeu que isso foi conseguido, geração após geração, com a percussão de seixos para a formação de sulcos depois acentuados com a fricção de areia.
A explicação a poucos convence. Balduíno, por exemplo, nunca esteve disposto a aceitar que todas aquelas figuras, únicas em sua complexidade, tamanho e formato, sejam produtos do ócio de povos indígenas. “Aquilo contém uma mensagem”, disse-me quando eu o entrevistei para o “Jornal do Commercio” do Recife, edição de 8 de maio de 2000. A matéria então lastimava o descaso oficial com o monumento constantemente erodido pelo Rio Ingá, em cujo leito se encontra, e por choques térmicos decorrentes da intermitência de sol e chuva.
Outra versão vincula as Itacoatiaras a uma expedição egípcia que, no tempo das pirâmides, haveria aportado no Litoral paraibano depois de ter-se perdido no mar. Para esta os desmentidos convencem.
Seja como for, a Pedra do Ingá e seus mistérios continuam à espera da decifração. Enquanto isso não acontece, o local é invariavelmente procurado por paleontólogos, ufólogos, integrantes de grupos esotéricos e pesquisadores empenhados na produção sucessiva de ensaios e livros, dentro e fora do Estado.
Ali estive, dias atrás, a fim de mostrar a uma das noras aquilo que, nascida na Paraíba, ela ainda desconhecia. Foi bom vê-la atenta a cada detalhe, embevecida com toda aquela paisagem, com a vegetação robusta e espinhosa do Agreste paraibano e, não menos, com os ares místicos conferidos ao ambiente por arte inexplicável da Natureza.
Porém, foi ainda melhor verificar a boa afluência de público ao local e constatar, bem aliviado, que tudo aquilo está em boas mãos: as de Vavá da Luz, o secretário municipal de Turismo que ali instalou seu Gabinete. Assim o fez em espaço de um Museu Natural com acervo formado por conchas, ossos e ilustrações de animais que povoaram a Pré-História brasileira.
Afável, solícito e bem-humorado, ele a todos recebia com um sorriso largo e o convite à renovação da visita. Vavá, afinal, é de uma espécie de gestores públicos tão raros quanto a Pedra exibida, em bons modos, ao interesse de meio mundo