Luiz Gonzaga Rodrigues – @gonzaga.rodrigues
COM AQUELA VOZ e respiração relaxada de quem se deleitava em um balanço de rede, meu amigo José Edmilson fala ao telefone: – Hummm, Thomas, sábado vamos ter um encontro em Campina (detalhe que ele curte suas férias em Cabedelo-PB), vamos receber Gonzaga que vai com seu filho Paulinho, Hildeberto, Irani Medeiros, Antônio David que fará umas boas fotografias. É que ele (Gonzaga) quer dar um passeio na Praça da Bandeira relembrando dos tempos de Pio XI, quer ir à ‘Feira Grande’ onde comprava o queijo ‘Boa Vista’ ao Seu Wilson, pai de Wellington do queijo. Vamos ao sebo, o levaremos à Juarez (Livraria Espaço de Cultura), ao Ferro d’Engomar e em algum lugar que sirva uma boa e tradicional fava. Todo arrepiado com a possibilidade desse encontro histórico, respondi: – Z’Édmilson, faça isso comigo não. Tô no Cariri fazendo uma pesquisa e não chego sábado… Ele “pegou ar”, como nomenclaturamos aquele momento interjectivo de raiva: – Ah, você quem vai perder, depois a gente se fala, tchau! E desligou… Desligou. Como diz o confrade Jessier Quirino de maneira bem expressiva em seus causos: “Marrapaizzzzzzz…”.
Retorno à ligação bem simpático: – Meu querido, você acha que eu perderia um momento histórico como esse sem um motivo mais forte que eu? Vamos fazer assim, vou ver como faço para estar em Campina, abreviar as atividades aqui e podermos estar juntos. Tá certo? E depois eu ainda liguei para ele pedindo para convidar nossos amigos Daniel Duarte, Josemir Camilo e Bruno Gaudêncio para estarem presentes, ele gostou da ideia. Naquele momento minha mente viajou em uma série de pensamentos sobre esse querido, o mestre da crônica, Gonzaga Rodrigues.
Estava em um dos maravilhosos encontros nas manhãs de sábado lá na Livraria do Luiz, na capital parahybana, revendo alguns amigos, conhecendo grandes escritores, admirando e ouvindo tantos intelectuais que admiro, até que ouço uma frase da mesa vizinha: “Gonzaga tá vindo aí”. Leitor contumaz de suas crônicas, admirador de seus escritos, fui tomado por uma tensão comportamental, não sabia como agir na sua presença. Entra aquele homem maduro, de sorriso terno e afável, abraçado e saudado por todos os presentes. Esperei a minha oportunidade e estirei minha mão dizendo do quanto o admirava e da alegria de conhecê-lo pessoalmente. Comentei algumas crônicas. Sorrindo ele disse: “você que é o Thomas de Campina? Tenho lido suas crônicas viu? Tô gostando”. Conversamos bastante e depois de outros encontros, ele me puxou para o balcão da livraria, pediu seu livro ‘O sítio que anda comigo’ e me presenteou, sempre com sua elegante humildade dizendo que era umas palavrinhas sobre sua vida. O amigo Paiva da Mata estava do lado e comentou que eu estava ganhando um presentão e realmente estava.
Edmilson e eu ladeando Gonzaga na Livraria do Luiz em um sábado de maio de 2018
Nosso contato e encontros são sempre com a alegria e de uma sinergia impressionante, quase sempre na companhia de seu filho Paulinho. Tem uns quatro anos que escrevi uma crônica em que revelei uma passagem da infância com minha irmã ‘A menina e a pelota’. Sempre aos sábados em A União, ele na página 2 (além da quarta) e eu na 11. No fim da tarde, fui com meu pai e um primo ao estádio Amigão ver um jogo do Treze contra o Náutico. N’um certo momento do primeiro tempo, desci o túnel para ir ao banheiro, quando o celular dá um bip. Vejo, é um email justamente do amigo Gonzaga. Abro com ansiedade e leio: “Bruno, Houve um sujeito que começou assim, por uma “vaquinha que fazia moom” e terminou escrevendo o maior romance do século 20. Houve outro que em vez de Wanessinha inventou Vaninha ou Vânia e terminou como o mais moderno e ao mesmo tempo o mais lírico dos contistas. Pois bem, eu também saí pegando na mão de Wanessinha, fui aderindo, aderindo e ao fim, quando a intenção era te dar um abraço, te dou um beijo. Um beijo de velho que pra menino só falta esse gênero de arte”. A emoção com que voltei para a arquibancada foi incrível. Do jogo morno nem havia notado que o Náutico marcara 1×0. Naquele momento, mesmo apaixonado pelo Galo, nem fiz parte com aquele placar, eu já havia ganhado meu dia.
Com Luiz Augusto Paiva e Gonzaga na Livraria do Luiz
No fim da tarde da sexta-feira, ligo para meu poetinha Z’Édmilson para dar a boa nova de que eu consegui antecipar a pesquisa e, animado, estava voltando para Campina. Ele responde: “O encontro foi adiado, Gonzaga teve uma indisposição e mudou para outro dia…”. Voltando do Mundo-Sertão, cheirando a caatinga brava, lembrei-me de alguns de nossos encontros. Ao mesmo tempo em que mandava energias positivas, sublimava um desejo: que esse encontro logo aconteça.
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