A pedidos na festa da Padroeira de Boqueirão, mais uma página do livro (Para Guardar na lembrança que é amiga da saudade 2010) O Cine Art
Quem lembra de aviso:
“Apague a Luz, Maciel”
Seu Osvaldo desfilava por toda a cidade de Boqueirão som seu automóvel, com um cartaz arrumado na parte traseira do veículo, com o Título e Foto do Filme que seria exibido naquela noite e os anunciava os próximos lançamentos, “Hoje às 19h no Cine Art será exibido a película intitulada “Coração de Luto”, estrelado por Teixeirinha e Mary Terezinha, ou ainda o Clássico Italiano “Dio, como Ti Amo”, estrelado Gigriolla Cinquete, “O Ébrio, estrelado por Vicente Celestino, “O Grande Circo”, eram filmes Nacionais e Internacionais nomes consagrados, que podíamos assistit em Boqueirão em pelos anos 70.
Além do carro, tinha a difusora no Cine Art que tocava e também fazia um ,anuncio do filme do dia.
Eu adorava ver os cartazes, verdadeiros Baners que eram fixados nas janelas do Cinema como hoje um “Outdor”, onde os sonhos aumentavam em assistir os títulos.
Logo que dava a hora do filme, era necessário chegar mais cedo um porco para ser recepcionado pelo casal fantástico Zé do Rolete e Graça, que vendiam os confeitos, balas e os roletes de cana, tudo bem acomodado num carrinho que formava uma bomboniere perfeita de colorido que enchia os olhos e sabores inesquecíveis, sem falar nas laranjas que por serem descascadas na hora exalavam um pefume que ninguém resistia ao cheiro que chegava ao encanto. Nunca até hoje já provei laranjas mais doces – estas serviriam de peça fundamental na sessão de cinema que ia começar em poucos instantes.
Antes de iniciar a sessão do filme, eram tocados três sinais sonoros, tão agudo e forte que toda a cidade escutava.”Se comenta que até no Taboado se ouvia.” Depois do último toque, quem tivesse fora ou para passar a porta, seu Osvaldo em alto e bom som dizia: “vou fechar a porta”. E fechava mesmo.
Todos já dentro da sala para iniciar a sessão com o filme, muitos ainda tentando se sentar, e então, S Osvaldo ordenava: “Apaga a Luz Maciel”.
Acendiam umas luzes coloridas nos vazos altos nas colunas do sação, e depois apagava tudo, para o começo do filme.
Tinham e tem umas figuras conhecidas por todos nós, e desses tenho o maior orgulho de ter feito parte, só vou citar “as obras” e vocês identificam os autores: quando apagavam as luzes, meus amigos, começavam os gritos, assobios, como também a carimbada da laranja chupada, era usada como peteleco de frente pra trás e de trás pra frente e vice-versa.
Era o momento de concentração e preparação para o início do filme.
S Osvaldo, acendia as luzes, saía da la da sala das máquinas, vinha na frente e falava alto e em bom tom, “Quem se não se comprotar todo mundo, está cancelado a sessão do filme. Todos aplaudiam e então, entoava o coco “S Osvaldo, S Osvaldo…”. Aí apagava as luzes novamente e começava, então. O Filme.
Acho que por ser muito perto da hora que todos tinham jantado, ou pela degustação da laranja, começava a sessão “Arroto”, era quase uma ópera por alguns, para outros arrotos boêmios e nostálgicos, outros pronunciados cheio de vícios e palavras fortes como “Tabaco”, que em sonoridade arrotal era pronunciado “ta-ba-coooo”, ou ainda relatava o nome do amigo mais próximo “Jú-ni-orrr”.
Terminada essa parte, vinha a segunda e mais forte ainda, comaçava uma correria de alguma fileira em direção do espaço mais vazio ou da porta do rio, era sessão “Peido”. Havia alguns que eram identificados os verdadeiros autores pois era uma desonra negar um peido, outros eram identificados pelos odores.
Quando o efeito percorria o salão e chegava na máquina onde S Osvaldo estava a executar a reprodução do filme, ele descia, como uma válvula de escape ele abria porta do rio para ventilar e o danado do peido sair. Fechava a porta, o odor passava, más, já começava outro tiroteio de peido e assim já se acostumava com cenário.
Quando chegava no meio do filme, S Osvaldo dava uma parada estrategicamente técnica, era a troca do rolo do filme.
Tinha um pote dentro do cinema com água e um copo só, ou podia sair e ir em Zé do Rolete que estavam na frente para a compra de mais alguma coisa.
Começava a segunda parte, já caminhava para o final.
Sempre a casa lotada, muita gente, muita emoção e alegria até então.
Quando o filme tinha censura, eita, quanta arte manha para passar sem ser percebido, quanta tremedeira para S Osvaldo não notar a presença.
Chegava a hora do final da exibição, a palavra FIM na tela. Apesar de tudo, éramos muito educados, todos aplaudiam muito no final.
Mas, ainda a emoção da saída, a porta era bem pequena, tipo porta de casa do interior, olhe tinha que ser forte para sobreviver, empurrão, rasteira tudo que tinha direito.
Mas, S Osvaldo, já começava a varrer e arrumar o salão para o dia seguinte, começando tudo outra vez, com seu espírito Cultural, Empreendedor e Mambembe que só os grandes homens desempenham.
Hoje, Gratidão e aplaudo S Osvaldo, onde ele estiver.
[20:26, 28/01/2023] Dunga Júnior: De um dia de Domingo 29/01/2023