LENDA URBANA ?
RAMALHO LEITE
Terminou o ano de 2022 e o nosso Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP) deixou passar em banco o registro do centenário do VII Congresso Brasileiro de Geografia, realizado nesta capital sob os auspícios do governo de Solon de Lucena e do próprio IHGP entre 13 e 20 de maio do ano de 1922 do século passado. A mensagem dirigida à Assembleia Legislativa em 1 de setembro de 1922 pelo presidente Solon, destacou que o Tesouro do Estado dispendeu cerca de 30 contos de reis com o evento e, o que é mais curioso, o próprio Instituto entrou com 9 contos, que o presidente da Casa, Flavio Maroja depositou nas burras do Tesouro.
Antes da realização desse Congresso, o presidente Epitácio Pessoa havia convocado outro para, do Rio de Janeiro, discutirem os limites dos estados membros. A Parahyba esteve representada pelo “provecto Manoel Tavares Cavalcanti. Como se desincumbiu o ilustre representante, dizem-no bem alto os acordos firmados com Pernambuco e Rio Grande do Norte e a confirmação dos limites naturais com o Ceará”. Mas foi no Congresso de Geografia em Belo Horizonte que a Parahyba foi escolhida para a edição seguinte. Ao tomar conhecimento, o presidente Solon entendeu-se com o IHGP e juntos, cuidaram do sucesso do empreendimento organizado por Flavio Maroja, Alcides Bezerra, cônego Florentino Barbosa Leite, José Coelho, Coriolano de Medeiros e outros nomes de ruas.
Estamos vivenciando o centenário do Governo de Solon de Lucena (1920/24) e, como promotor das festividades, na Assembleia Legislativa, do seu centenário de nascimento, sempre o trago à lembrança, pelo grande paraibano que foi esse filho ilustre de Bananeiras. De logo, gostaria de censurar os noticiaristas locais das nossas emissoras de rádio e televisão, que teimam em esquecer seu nome e procuram popularizar como “Parque da Lagoa” o logradouro que leva, com muita justiça, o seu nome. Injustificável.
Mas a lenda urbana a que me referi no título, não vem do folclore e nem alude à Comadre Fulorzinha, Caipora, à Cabra Cabriola ou ao Saci Pererê. Trata-se de uma versão sobre a construção da Praça da Independência, em João Pessoa, erigida dentro das comemorações do Centenário da Independência do Brasil e, envolve o presidente Solon de Lucena e o prefeito Guedes Pereira, seu conterrâneo.
A história divulgada e lembrada com insistência no ano do bicentenário da Independência registra que o terreno da praça teria sido doado pelo prefeito Guedes Pereira com a proibição de ser alterado o seu traçado. Parte é verdade. Todavia, o presidente Sólon de Lucena, narrando as comemorações do centenário, em mensagem dirigida a Assembleia destaca: “ Outra despesa do centenário foi a compra de terrenos em Tambiá, para um vasto quadrilátero, cujo nome relembre o feito da Independência e onde um obelisco de pedra sustente inscrições adequadas, em bronze. Devo mencionar aqui a doação que para completar as dimensões necessárias àquele campo ou praça, fez o dr. Guedes Pereira, proprietário nas imediações, de considerável trato de terra. Entreguei ao Município, cujo actual prefeito, o sr. Dr. Guedes Pereira, é um zeloso e competente administrador, a abertura do citado logradouro comemorativo”.
Só conhecendo a escritura de doação do terreno complementar, saberemos se é verdade o que contam ou tudo não passa de uma lenda urbana.