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Lipedema: o que é, sintomas e tratamento da doença que acumula gordura nas pernas em mulheres

Erro das pacientes e até de médicos em achar que os sinais são característicos de obesidade, atrasa o tratamento e o diagnóstico precoce. Além disso, existe confusão entre lipedema e linfedema; entenda

Lipedema é uma doença pouco conhecida, caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura em locais específicos do corpo, em especial, as pernas, e só ocorre em mulheres. Apenas 30% dos casos atingem os braços.

O mais comum, de fato, é o acúmulo de gordura nas pernas e coxas — o que tem forte impacto sobre a autoestima das pacientes que se sentem desconfortáveis socialmente, afetando a saúde mental.

O que causa lipedema?

Apesar da doença ser conhecida desde 1940, a ciência não entende os mecanismos que leva à acumulação de gordura corporal nos membros.

Existem pouquíssimas evidências científicas, de forma concreta, que indiquem o verdadeiro motivo desencadeador de um lipedema.

O que os médicos sabem é que existe fator genético diretamente relacionado, passado de mães para as filhas. Geralmente, uma mulher com pernas com lipedema tem várias outras mulheres na família com a mesma característica.

Mas, evidências colocam em jogo outras possibilidades, com suspeitas de influência hormonal, após a menarca (primeira menstruação), gravidez, menopausa e até mesmo o uso de pílulas anticoncepcionais — mas, ainda sem estudos robustos que confirmem as teorias.

Quais os estágios do lipedema?

Não existem, propriamente. As características da doença impedem a padronização em forma de estágios homogêneos — embora médicos tenham formulado 4 “passos” para entender a progressão da doença e diagnosticá-la, mas não se encaixam a todas as pacientes.

As características clássicas sobre a aparência das pernas ou dos braços, por exemplo, precisam ser acompanhadas de outros sintomas, que geralmente são dor ou sensibilidade ao toque, afirma a Dra. Joana de Carvalho, cirurgiã vascular.

Estágio 1: As pernas não ficam constantemente inchadas e podem diminuir se a mulher ficar em repouso.

Estágio 2: Pode ocorrer a famosa aparência “casca de laranja”. Dor e hematomas podem surgir com frequências variadas e sem motivos aparentes.

Estágio 3: Inicia-se um processo mais acentuado de dor e a paciente percebe que grandes áreas das pernas ou braços estão acumulando gordura.

Estágio 4: Nesta fase, é completamente visível a grande intensidade do acúmulo de gordura e outros sintomas surgem como dores, inchaços, podendo inclusive formar fibroses e linfedemas.

Quais exames confirmam lipedema?

Os médicos usam a aparência física e a textura da pele para levantar a possibilidade do diagnóstico. Podem ser usados exames como o doppler vascular (um tipo de ultrassom), dosagem de gordura e cintilografia, para tornar o diagnóstico mais robusto.

Estudo de 2020 da Faculdade Santa Marcelina, São Paulo, mostrou que apenas 9% dos médicos consultados sabem diagnosticar corretamente a doença, e 75% dos diagnósticos estavam errados, confundindo lipedema com obesidade, de acordo com a Veja Saúde.

As diferenças visíveis clássicas entre lipedema e obesidade. Foto: Reprodução

A diferença entre lipedema e obesidade é que, no lipedema, a gordura excessiva não se distribui pelo corpo todo. Mesmo emagrecendo, as pernas não emagrecem e o acúmulo torna-se evidente.

Quais as consequências do lipedema?

Em estágios mais avançados, podem ocorrer deformações nos joelhos, problemas nas articulações, pés chatos e até dificuldade para caminhar, com processos inflamatórios que geram dor ou desconforto.

Em estudo publicado no Journal of Clinical Medicine, ficou claro que pacientes com lipedema sofrem estigma social pela aparência das pernas, além de redução na qualidade de vida pela dificuldade em executar atividades diárias básicas.

Apesar dos aspectos físicos, os maiores impactos estão na saúde mental, já que é comum mulheres com lipedema sofrerem de depressão, ansiedade, baixa autoestima e profunda vergonha em exibir as pernas.

Por que apenas em mulheres?

A ciência não sabe responder, de acordo com o médico Dr. Rui Leitão, especialista em cirurgia plástica reconstrutiva do Hospital Lusíadas, de Lisboa. Ele ressalta à CNN Portugal que esta é uma doença das mulheres. “É raríssimo aparecer nos homens”, diz.

Lipedema e linfedema: qual a diferença?

O linfedema ocorre pela obstrução dos canais linfáticos, o que leva a uma aparência assimétrica dos membros, podendo ocorrer em uma perna e não em outra, inclusive em mãos e pés, mas não de forma homogênea, o que não ocorre no caso de lipedema, que não está relacionado com obstrução dos vasos linfáticos.

Diferença entre linfedema e lipedema.

Existe tratamento?

Os médicos dizem que é uma doença difícil de tratar, ressaltando que não há cura conhecida. Em geral, recomenda-se mudança de hábitos alimentares, com a chamada “dieta anti-inflamatória” intercalada com dieta cetogênica, para diminuir riscos de resposta crônica à inflamação.

As pacientes precisam adotar hábitos regulares de exercícios físicos porque a gordura acumulada acentua a diminuição da massa muscular. A atividade física é crucial.

Fisioterapia melhora a qualidade de vida e sessões de drenagem linfática ajudam a evitar formação de fibroses. Em casos avançados, há necessidade de fazer várias lipoaspirações nas áreas mais afetadas.

As cirurgias ocorrem retirando poucas quantidades de gordura por vez, para diminuir riscos de complicações, dando espaço de 3 meses de uma cirurgia para outra, afirma a cirurgiã vascular Dra. Joana de Carvalho.

Apesar de existir possibilidade cirúrgica, os médicos são enfáticos ao afirmar que ela não significa cura, não sendo definitiva, mas permite que pacientes tenham melhor qualidade de vida por vários anos após o procedimento.

 

FONTE : JORNAL CIENCIA