Marcos Pires
“- E aí, amigo, esse telefone é seguro?”
“- É sim. Cada vez que eu falo troco o chip e a cada dez ligações estou trocando o aparelho.”.
“- Olha só, estou te ligando para fazer um acerto daquela última parada.”.
“- Como assim? Eu mandei a parte do teu chefe e a tua faz mais de dois meses… .”.
“- Não, querido. Nós não recebemos nada. O último pagamento que recebemos foi ainda no tempo em que meu chefe estava solto. Depois que ele foi preso não recebi noticiais de vocês.”.
“- Eu não liguei porque depois que meu chefe também foi preso a ordem é segurar os contatos ao máximo.”.
“- Certo, amigo, mas isso não quer dizer que vocês não paguem o que nos devem porque mesmo preso o meu chefe continua com as despesas, agora inclusive até maiores, porque está pagando os honorários dos advogados que estão fazendo a defesa.”.
“- Amigo, eu tenho certeza de que o dinheiro foi mandado para vocês pelo mesmo doleiro de sempre… .”.
“- Mas nós não recebemos e esse doleiro está foragido há muito tempo. Ele deu sorte, tem dupla nacionalidade.”.
“- E o que você quer que eu faça?”
“- Fala pro teu chefe na próxima vez que for visita-lo na cadeia que se ele não pagar ao meu chefe, periga entrar na delação premiada dele.”.
“- Ei, mas se meu chefe mandou o dinheiro e roubaram no caminho, qual é a culpa dele? Além disso o meu chefe também pode delatar o teu e os dois irão mofar na cadeia.”.
“- Mas vem cá…você me deu uma ideia. Que tal se nós nos juntarmos e incentivarmos eles a delatarem um ao outro? Com as granas deles que estamos escondendo, bem poderíamos sair candidatos na próxima eleição. Seria barbada, porque é dinheiro demais. Olha só, nós seríamos Deputados e eles continuariam presidiários.”.
“- Ah, ah, ah! E no exercício do mandato votaríamos leis que aumentassem as penas deles em favor da moral e ficaríamos livres, fazendo mais um “remendo” na Constituição para permitir a retroatividade penal. É uma excelente ideia!”.
“- E como somos caras novas, os idiotas dos eleitores vão pensar que estão renovando o Congresso. Ah, ah, ah, vão colocar as raposas no galinheiro.”.
O novo nem sempre é melhor que o antigo e no caso dos políticos ambos podem ser piores ainda.