NO MEU VELÓRIO (por vavadaluz)
Eu quero no meu velório
Alegria, sem pirraça
Casa cheia de cachaça
Num movimento simplório
X
Que se tenha um oratório
Arrodeado de velas
Um bocado de donzela
Curtindo meu purgatório
X
Que tragam suas cervejas
Cana, coquetel de Uva
Importante é que não estejam
Dando despesas a viúva
X
E que esta por sua vez
Mije na sala a vontade
Na mais alta sensatez
Com toda sobriedade
Mostrando a quem ignora
Que uma viúva só chora
Por onde sente saudade
X
Também quero um pagodeiro
Um cantador de viola
Seis putas de camisola
Batucando num pandeiro
X
E la fora no terreiro
Desse meu descanso eterno
Se escute alguém que traduz :
Agora Vavá da Luz
Vai comer cu no inferno
X
Que cheguem os mais atiçados
Embriagados e sacanas
Perguntem : Cadê a cana ?
Pra nós beber o safado
X
Que venham os mais comedidos
E num silêncios profundo
Pensem que tomei no fundo
Agora sim, tou fudido
X
De tudo eu quero que venha
Pra assistir esse meu passe
Transformado essa ordenha
Numa suruba de classes
X
Só livrando os mais chegados
Viúva , filhos e netos
Inclusive os desafetos
Fiquem todos avisados
Eu vou deixar contratado
O dedão de zé Camurço
Pra quem soltar um soluço
Ele sem ódio e sem medo
Pegue o cabra e empurre o dedo
Inté chegar no seu pulso
X
Quero ser encomendado
Numa mortalha de renda
O mais difícil é saber
Quem danado vai querer
Aceitar esse encomenda
X
Satisfeito esse meus gostos
Partimos pra cova funda
Com saudades das bucetas
E claro, de algumas bundas
–
Ao notarem algum catombo
Na barguilha , meio escuro
Comente sem hesitar
Neste ambiente seguro:
Esse aqui é o Vavá
o único filho de Ingá
que morreu com a pau duro
X
Coloquem na minha lápide
Embaixo, no pé da cruz
Esse dizeres fecundos:
“ Aqui jaz Vava da Luz
No seu sono mais profundo
Deixa saudade somente
Das FODAS que deu no mundo”
Vavda luz, 1948 x 2080