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Vaidade e orgulho de ser político

Em princípio, como todo ser humano é, essencialmente, um ser político, isso seria uma verdade que não generalizaria vaidade dessa realidade a todos nós, seria tão somente uma vaidade com simplicidade, porque ela em si não provocaria normalmente consequente orgulho. A vaidade que causaria orgulho é aquela proveniente das pessoas que têm os outros apenas como seus admiradores. Seus ouvidos são afiados apenas aos elogios, e surdos, às críticas. Enfim, na polis, querem ser permanentemente admirados, estátua de bronze antes de morrer… Pretendendo ser “mais” em todos os sentidos. Em casa, levam as crianças a dizerem aos amigos e às amigas seriamente: “meu pai é o que mais sabe, é o que mais é e o que mais tem…”.
          Nem os próprios vaidosos orgulhosos, na política, deixam de reconhecer que tais atitudes são frutos do fingimento, do faz de conta, ao perceberem seus frequentes momentos de fraqueza. E à medida que isso se torna uma patologia, vivem eles um delírio de grandeza, em relação as suas ascensões no poder. Essas sensações se desmancham, caso, refletidamente, vejam, na realidade, as reais possibilidades do que imaginam. Para se curar, esses extremos vaidosos, como um Hitler ou um Mussolini  et cetera, por aqui mesmo, jamais sentem o veredicto do seu real valor. São iludidos por um imaginário, vaidosamente, narcísico. Fazem rir, como riem os adultos conscientes, quando observam as crianças disputando quem tem o pai mais poderoso. O imaginário dessa vaidade os afasta, cada vez mais, da realidade.
          Tal vaidade supina se vangloria na ilusão e na mentira, seus feitos são modernamente fake news. E se alguém, mesmo que seja por ironia, o exalta, como se estivesse colocando-os no pedestal da glória, eles não agradecem, mas, sem modéstia, apenas confirmam: “É isso mesmo…”. E assim ninguém os destrona. São indivíduos, entre nós, tão comuns, que serão vistos nos palanques ou nas tevês se autoelogiando, mesmo que haja quem os analise, segundo o discurso, tornando-os ridículos. Perdem enfim o bom senso.  
          Há quem, sem vaidade, mas com humildade, revigore o seu bom senso. Compreende que nenhum sucesso é para sempre, tem o seu momento e o seu tempo. O sucesso de hoje é um desafio para que ele próprio seja superado amanhã. O bom senso, no sucesso, exige o aperfeiçoamento do trabalho, de busca para de maior perfeição, como se fosse um reinício do caminho. Contudo, o político de sucesso se esforça para não enveredar na imagem que ele atingiu o seu ego-ideal. Distanciando-se da vaidade orgulhosa, vê seu sucesso como apenas fruto do seu honesto trabalho, dedicado mais aos outros do que a si próprio. É assim a garantia da continuidade do seu êxito. É inadmissível que a maturidade no adulto, até na consciência da pessoa política, não retifique essa desvirtuada instância imaginária forjada pelo narcisismo da vaidade, azeitado pelo orgulho. Enfim, o maior remédio para o orgulho é a humildade sincera, mesmo de qualquer político, a do espírito de serviço ao Bem Comum. Porque também, como nos filosofava Sofocleto, nada pior do que orgulhar-se de ser humilde, absurdo contrassenso. Assim, na evolução da sociedade, haverá um dia, em que, no bom sentido e com pureza, existirão conjuntamente vaidade e orgulho de ser político.  
 

Damião Ramos Cavalcanti