Não como carne. Nada a ver com coisas de saúde. Simplesmente nunca gostei do sabor. Gosto mesmo é de peixe. E entre todas as maneiras de preparo do peixe, a campeã, dando de goleada nas demais, é a peixada. Mas não essas peixadas para turistas, que são preparadas com leite de coco, azeite de dendê e outras enganações culinárias. A peixada perfeita é a escabeche, aquela raiz, feita pelos pescadores quando suas jangadas estão em alto mar. Eles enchem a panela com a água salgada, colocam tomate, pimentão e cebola, um pouco de azeite e alho e …está pronto o prato mais gostoso do mundo. Grande parte da magia é o peixe fresco, e se for uma cioba então… .
Aqui na Paraíba parece que é um insulto pedir esse prato. Primeiramente os restaurantes cometem um pecado mortal, um verdadeiro crime que mereceria o garrote vil ou mil chibatadas; preparam o que dizem ser peixada… com file de peixe. Pelo amor de Deus, peixada só se faz com postas de peixe, sem esquecer a cabeça do peixe, fundamental.
O único lugar onde comi uma peixada decente foi no restaurante da Comadre, em Natal, mas fica um pouco distante. Aqui em João Pessoa há muito desisti de pedir nos restaurantes porque os engraçadinhos, mesmo seguindo tudo o que digo, querem acrescentar colorau, cominho e outras maldades.
Domingo decidi fazer minha própria peixada. Era dia de levar mãe Leca para almoçar num dos restaurantes bacanas daqui, mas subornei-a com 25 reais para ela pedir o que quisesse no I.food e parti para a minha aventura gastronômica. Fui a Seu Dedé e comprei de um tudo. Depois fui a Zé do peixe na praia da Penha e Maria me vendeu uma cioba ainda mexendo. Descamada, rendeu umas oito postas. Fiz direitinho; cebola, pimentões, tomates, azeite 0.1, alho e pimenta. Enquanto esperava a água ferver notei uma formiga andando na bancada e tive uma ideia terrível; pus uma colher de açúcar e a maligna caiu na minha armadilha, porque saiu lépida e fagueira para chamar sua turma. Então eu limpei o açúcar e fiquei imaginando aquela fila enorme de formigas chegando ao local…sem açúcar. Com certeza ela ficou desmoralizada, tida como mentirosa no formigueiro, porque comigo é assim: matar é covardia, desmoralizar é bem mais proveitoso.
E finalmente a peixada ficou pronta. Coisa de 25 minutos. Deliciosa, perfeita. Almocei, jantei e ainda comi o resto no café da manhã do dia seguinte. Mandei um pouco para o apartamento de Mãe Leca, mas nada de tupperware, que ela nunca devolve. Usei um pote de sorvete, obvio.
Fui me pabular com minha filha Carolina (@ladycake) que é fera na cozinha. “- Pai, quanto você gastou?”. Respondi que o peixe custara 73 reais e em Seu Dedé eu gastara mais 500 reais. Uma pausa no telefone. “-Paaaai, você gastou 573 reais para fazer UMA peixada???”.
Só depois que desliguei é que me lembrei que nos 500 reais estavam incluídos a panela, um litro de uísque, as verduras e outros quetais.
Mas deixa pra lá, para sempre minha filha vai achar que eu sou o cozinheiro mais caro do mundo.
SEGREDO – adoro a cabeça do peixe, aí incluídos os olhos. Profissionais entenderão.