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ZÉ DE TOTO, O CANGACEIRO DO INGÁ (1944) (Neto Lira)

ZÉ DE TOTO, O CANGACEIRO DO INGÁ (1944)

Trecho de matéria publicada no Diário de Pernambuco em 21 de maio de 1944: “José Alonso de Oliveira, vindo de São João do Cariri, onde nasceu, chegou ao Ingá com 13 anos. […]

PRODUTO DO INGÁ DO BACAMARTE

Fugiu José Alonso de Oliveira às marcas e estigmas fixados pelos criminalistas. Não tem anomalias do crâneo e da face, nem mandíbulas prognatas, nem orelhas assimétricas. A sua fisionomia, entretanto, engana o melhor observador e à sua frente ninguém pensa que realmente se trata do Zé de Totó, a figura sinistra do Nordeste. No seu rosto pardo, nublado, absolutamente insensível, apenas os olhos falam demais. No decorrer do interrogatório é que ele se mostra todinho. Os olhos que não apresentam vivacidade, ao calor das perguntas, tomam um brilho surpreendente e parece extravasar todo o ódio que o animou ao crime durante 40 anos. Sente-se que aquele homem podia ter sido um homem honesto se vivesse em outras terras. Toda a sua história gira em torno de questões de terras arrendadas entre fazendeiros poderosos, movimentos eleitorais, choques armados entre senhores feudais. Produto puro do meio. Ingá não é ambiente para homens pacatos e simples. Hoje é uma cidade bucólica. Outrora, agitada por encontros mortais entre inimigos de ferro e fogo. Ingá era a terra do amor e do ódio. Chegou até os nossos dias com o apelido que o define – INGÁ DO BACAMARTE. A voz do Bacamarte era mais poderosa que a justiça, que o direito. […]

DIFERENTE DE LAMPIÃO E ANTÔNIO SILVINO

Zé de Totô continua negando a participação nos assaltos em que Pilão e Zé Luiz aparecem. Mas a polícia sabe de tudo. Zé de Totô não aparecia nos assaltos. Não se fazia necessária à sua presença. Ele dava ordens e estas eram cumpridas. Ele não se banalizava. Era mais sagaz do que Lampião e Antônio Silvino. Nunca marchava á frente de seu bando. Esses bandos marchavam sob a inspiração do chefe. A sua majestade no reino tenebroso do cangaço era indiscutida.”

Fonte: DIARIO DE PERNAMBUCO, 21 de maio de 1944, p. 3-8.

Pesquisador: J. B. Lira Neto.