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Quase cornos ( Marcos Pires)

Quase cornos

Marcos Pires

Os que são do meu tempo haverão de lembrar uns tais cadernos de confidencias que as meninas produziam e entregavam a alguns privilegiados para preencherem. Em cada página havia uma pergunta para os mancebos escolhidos responderem. Não ser convidado para participar desses tais cadernos era o mesmo que ser chamado de feio ou idiota. Tremenda frustração.

Passou o tempo e com o advento da internet surgiram os grupos de zap. Eles tem de um tudo, desde os grupos de família até grupos de profissão, passando por grupos de amigos – esses sim, o motivo deste escrito.

Ocorre com esses grupos de amigos do zap quase o mesmo que se dava com os antigos caderninhos de confidencias. É muito comum você estar numa reunião social, numa atividade esportiva, em qualquer lugar que junte alguns amigos e ouvir deles que tal foto ou fato foi postado “no grupo”. Como assim no grupo, qual grupo? Que grupo é esse ao qual você não pertence? A partir de então começa uma luta surda de convencimentos sutis de sua parte para que lhe convidem a integrar esse novo grupo. Quando sua insinuação se tornar tão evidente que não puder ser ignorada e eles não estiverem a fim da sua presença dirão imediatamente que não são os administradores do tal grupo, mas que irão procurar descobrir quem é o administrador e falar com ele. Já é uma bruta humilhação, pois não? Pior ainda é ficar cobrando a uns e outros se o tal administrador já decidiu.

O mais terrível, entretanto, é quando você sabe numa dessas conversas que todos os integrantes do teu melhor grupo de zap criaram um novo grupo e não te incluíram. Creiam que isso acontece com muito mais frequência do que se possa imaginar. Aí a coisa pesa. É que não há como fugir à constatação de que as pessoas de quem você mais gosta e com quem mais convive decidiram manter uma relação oculta de você. O que será que conversam? Por que será que te excluíram?

Uma querida amiga foi de uma sinceridade incrível: “- Marquinhos, afora a questão sexual, isso aí equivale a uma traição matrimonial. Não é brincadeira alguém descobrir que esse pessoal – e olha que na traição amorosa existe apenas uma única pessoa traindo – todos em quem esse coitado mais confia e gosta, uniram-se às suas costas (à sorrelfa, à socapa…como queiram) para desfrutar da sua ausência. Poderiam ter sido sinceros e dizerem logo que isso iria acontecer. Mas não; a pessoa será sempre a última a saber. Pra mim é como se fosse um quase corno”.

Que cousa!